1. Num primeiro momento, quase todos os alunos se assustam. Mesmo que você seja gentil, deixe claro que você pode estar errado, que eles não devem ouvir nenhum professor com a passividade com que ouvem seus pastores, que podem se sentir livres para discordar e expor sua discordância, que devem investigar depois, checar as informações, ou seja, mesmo depois de você deixar claro o nome do jogo - pesquisa e ensino-aprendizagem -, ainda assim eles se assustam num primeiro momento.
2. Num segundo momento, querem saber, então, o que fazem... Desmontados aqueles textos-armadilha com que garantiam práticas homiléticas que beiram o crime, eles querem saber, então, o que pregar domingo...
3. Bem, essa é a única profissão que entregam para quem não se preparou ainda: se fossem bombeiros, só iriam apagar incêndios depois de formados; se fossem médicos, somente depois de residência! Mas, como são "meros" teólogos, nem conta, na prática, o que estão estudando, já que o ministério a que se dedicarão não usa 1/10 do que eles aprenderão, lhes entregam púlpitos e ovelhas no domingo seguinte...
4. "O que eu prego?", perguntam desesperados...
5. E eu digo: amor, perdão, misericórdia, compaixão, paciência, boa-vontade... Pregue isso e não errará. Não pregue condenação, de tipo algum - e muito menos pregue doutrina. Não se queime: vai pregar hoje e se arrepender amanhã, porque, na aula de História da Igreja e, depois, na de Teologia Bíblia, vai aprender que nada do que está dizendo é bíblico, é apenas doutrina criada em algum Concílio antigo...
6. Assim, se não quer errar, pregue amor.
7. Arrisque ser ridículo. Fale de como se deve respeitar as pessoas mais velhas, cuidar das crianças, amar as mulheres e os maridos, ser fiel aos votos, à palavra, ser honesto, ser bom cidadão, a cuidar dos pobres, a fazer caridade. São coisas simples. Difícil errar nesse campo...
8. Amanhã, quando você estiver melhor preparado, suba um degrau. Fale da necessidade de crítica, de pensamento maduro, de visão política, de conhecimento das leis, de direitos, de deveres.
9. A Igreja pode ser um bom lugar, se ela abandonar essa ideia neurótica de condenação semanal de tudo e de todos, esse fetiche de Cristianismo, essa perversão sacerdotal.
10. Quando a Igreja é simplesmente casa de acolhimento, sem dedo na cara, sem a hipocrisia das denúncias do pecado em nome de Deus, essa patifaria hipócrita - ela pode ser um bom lugar.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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