sexta-feira, 29 de março de 2013

(2013/357) A fé não é o fundamento da vida


1. Li no Facebook uma citação de J. W. Fowler que dizia: "a fé, classicamente entendida (...) é mesmo o fundamento da vida"...

2. Não, não é.

3. Pelo contrário...

4. A vida é um fenômeno pré-humano. A vida humana é um desdobramento da vida geral, desde que ela se manifestou no planeta...

5. O que a vida tem de diferente em relação à pedra é que a pedra resiste mais às forças do meio ambiente, mas não se recompõe, ao passo que a vida resiste menos, mas, a despeito disso, recompõe-se, reconstrói-se.

6. A condição fundamental para a reconstrução ininterrupta do indivíduo - até que a senescência e a a morte interrompam o processo - é que possa extrair do meio-ambiente os elementos que constitui a sua base corporal: em síntese, os elementos da Tabela Periódica, que a vida usa, "comendo", para recompor-se - e isso porque a própria vida é Tabela Periódica em peculiar organização orgânica.

7. Pois bem. A vida, então, dispõe, necessariamente, de dois mecanismos de computação, de varredura, de prospecção: um, para vascular sua própria base corporal e verificar os elementos que estão em falta - potássio, por exemplo (K). Outro, para vasculhar o meio externo e localizar aquele elementos de que o organismo necessita...

8. Imagine você se a vida é crente... Imagine se ela acredite que aquele íon de ferro (Fe) que está ali, boiando, é um íon de potássio (K). Crente, ela recolhe o ferro, achando que é potássio. Dia após dia, recolhe ferro, achando, sempre, que é potássio...

9. Ou, pior, era chumbo (Pb), não era nem ferro nem potássio, mas a célula crente acreditava que era potássio... Morreu em dois dias, envenenada e com câimbras...

10. O fundamento da vida não é a fé - é o conhecimento: a capacidade de a vida monitorar seu nível de desgaste e recompor-se, retirando do meio ambiente os elementos de que precisa para a recomposição...

11. Além disso, além de a fé não ser o fundamento da vida, ela sequer é uma atitude só: há quatro atitudes humanas que chamamos de fé, e são cada uma diferente da outra: pressentir um fundo de mistério na vida, acreditar em doutrinas positivas, crer na manipulação de forças sobrenaturais e confiar no dia de amanhã. Todas essas são atitudes a que chamamos fé - respectivamente, fé enquanto encontro, fé enquanto ensino, fé enquanto encanto e fé enquanto entrega. São coisas diferentes, mas as tratamos pelo mesmo nome - o que gera muita confusão...

12. Seja como for, nenhuma dessas atitudes é o fundamento da vida.

13. O que garante a manutenção da vida é a sua capacidade de conhecer-se, conhecer o meio e refazer-se ininterruptamente, enfrentando com perseverança e competência o desgaste inexorável dos dias...

14. Conhecimento.

15. A fé, quantas vezes primas-irmã da ignorância, chega mesmo a ser um veneno para a vida...





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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