quarta-feira, 27 de março de 2013

(2013/351) Luta de classes e religião - nem sumiram, mas dizem que estão voltando: sobre o novo livro de Domenico Losurdo

1. Saiu o novo livro de Losurdo, meu atual filósofo (político) predileto. Mas só na Itália. Logo sairá por aqui, mas ainda não. É sobre a luta de classes.

2. Eis um trecho de uma entrevista concedida por Losurdo, falando sobre o livro e a luta de classes:

Critica Liberale: Professor Losurdo, como explica esta ideia de escrever um livro sobre a luta de classe, conceito tido por muitos como morto? 
Domenico Losurdo: Enquanto grassa a crise econômica, engrossam os ensaios que evocam o “retorno da luta de classe”. Tinha desaparecido? Na realidade, os intelectuais e os políticos que proclamavam o crepúsculo da teoria marxista da luta de classe cometiam um duplo erro. Por um lado, embelezavam a realidade do capitalismo. Nos anos 1950, Ralf Dahrendorf afirmava que se estava verificando um “nivelamento das diferenças sociais” e que aquelas mesmas modestas “diferenças” eram somente o resultado do mérito escolástico; contudo, bastava ler a imprensa estadunidense, até a mais alinhada, para dar-se conta de que mesmo nos países-guias do Ocidente subsistiam pavorosos bolsões de uma miséria que se transmitia hereditariamente de uma geração a outra. Ainda mais grave era o segundo erro, de caráter mais propriamente teórico. Eram os anos em que se desenvolvia a revolução anticolonial no Vietnã, em Cuba, no Terceiro Mundo; nos Estados Unidos os negros lutavam para pôr fim à supremacia branca, ao sistema de segregação, discriminação e opressão racial que ainda pesava sobre eles. Os teóricos da superação da luta de classes estavam cegos ante as ásperas lutas de classes que se desenvolviam sob seus olhos.

3. O século XX é aquele século engraçado, em que a alta intelligentsia disse que tudo o que ela achava ruim tinha acabado - mas não tinha não: não acabou a religião, não acabou a História, não acabou a luta de classes... É o século em que se pretendeu trocar a realidade pelos discursos: e, agora, uma a uma, as palavras, como coisas duríssimas, caem nas cabeças palavrescas dos desavisados...

4. Chamemos a isso a crise de princípio de prazer do establishment do século XX. Que, concordemos, afetou bastante cabeças que olhavam por cima do muro...




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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