1. A tese não é minha.
2. Não vou apresentá-la como se fosse minha.
3. Se há algum mérito de minha parte é, se li certo, tê-la entendido.
4. Mas quem disse o que eu vou dizer, se leio certo, é alguém que viveu por volta do século V ou IV antes da era comum, talvez, mas não certamente, uma mulher, de qualquer forma, o autor ou a autora de Cantares de Salomão.
5. Aliás, em breve a Estudos Teológicos, da EST, publicará um artigo meu sobre o confronto entre Ct 7,10 e Gn 3,16 - enquanto escrevo no Peroratio e no Facebook, também escrevo artigos Qualis... Aqui é a divulgação, o resumo, o resultado de horas de reflexão e exegese...
6. Volto a Cantares...
7. Eis a tese.
8. O Templo tornou a mulher maldita por duas razões: a) primeiro, para impedi-la do exercício sagrado e b) para entregá-la como moeda de troca ao homem.
9. O homem camponês também é vítima do Templo - seu estado fundamental, estado de trabalho, é, igualmente, dado como maldito: a terra, fonte de seu sustento, é amaldiçoada. Deus o castiga. Mas, ao mesmo tempo, Deus precisa dele - ele tem que trabalhar, produzir e entregar recursos ao Templo. Da terra que Deus amaldiçoa, ele tem que tirar o sustento e, além do sustento, tirar o excedente para sustentar Deus...
10. E vai ficar por isso mesmo?
11. Não, há compensações.
12. Qual?
13. Legitimando, em Deus, o domínio que ele pode ter sobre a mulher. O camponês se submete a Deus - isto é, ao Templo (maldito seja!) e, em troca, Deus - isto é, o Templo (maldito seja!) submete a mulher ao homem.
14. No acordo político-social, teológico-religioso, a carne e o corpo da mulher entram como moeda de troca: os machos, de qualquer modo, dançam a dança de Deus sobre o sexo da mulher...
15. E por que a maldição "cola"?
16. Por que a sociedade acatou a mentira?
17. Por que os machos camponeses sentiram-se satisfeitos com a compensação: eram reis sobre os corpos das mulheres, conquanto escravos malditos na mão do Templo...
18. Aqui, a crítica mais extraordinária da Bíblia Hebraica - a Amada em Cantares diz, com todas as letras: se tu, meu homem, a quem deseja a minha carne, tivesse ficado do meu lado, dito não ao canalha de doze joias, eu não seria maldita...
19. Mas tu disseste sim a eles, aceitaste a maldição do meu corpo, para, em troca disso, ter-me como escrava e comida.
20. Tu me traíste, meu amor...
21. Deus não tem nada a ver com isso...
22. Ela, então, tomada de desejo, convida-o para os campos, a colherem... mandrágoras...
23. Mais não conto.
24. É o livro mais inspirador que já li na vida.
25. Primeiro, chorei. Chorei copiosamente...
26. Depois, a amei com todos os ossos do corpo.
27. No fundo, Bel é bem essa mulher...
28. Nunca se curvou a sacerdotes...
29. E ama e deseja com toda força e lucidez...
29. Desconfio que o espírito da Amada ronda nossa casa...
30. Mas, com certeza, há uma amada lá...
30. Mas, com certeza, há uma amada lá...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
(PS. para os alunos da Unida: se desejarem o curso de Cantares, façam lista com pelo menos 20 nomes garantidos, com dia possível, e abro o Curso de Extensão).
(PS. para os alunos da Unida: se desejarem o curso de Cantares, façam lista com pelo menos 20 nomes garantidos, com dia possível, e abro o Curso de Extensão).
Nenhum comentário:
Postar um comentário