1. No princípio, era mana, uma energia totalizante que impregnava tudo, como uma grande "alma", um grande véu pousado sobre tudo... Mitologia refinada, me dizem...
2. Depois, foi a ânima, a "alma" - tudo tem uma alma, como dizem os xintoístas - tudo tem um kami... Mitologia refinada individualizante, me asseveram...
3. Depois vieram os deuses, separando-se das coisas, ponde-se sobre elas, criando-as... Mitologia antropomorrfizante, me asseguram...
4. Depois veio o Deus único... Inteligência da fé, me revelam...
5. É engraçado: o que corresponde aos conceitos dos outros, mito, religião; o que corresponde aos nossos, inteligência, fé...
6. Povozinho presunçoso esse nosso, não?
7. Pense em algo que não cabe em canto algum, em que tudo cabe nele, que não está em canto algum, mas está em tudo, que não é e é, que não faz e faz, pense em algo que não pode ser pensado... Isso é Deus, me diz o sujeito espiritualizado, vaidoso de sua sobre-excelente inteligência...
8. No fundo, ele me diz:
Não pense!... Repita comigo e se entregue (a mim)...
9. Seja a doutrinação acrítica, em que todos repetem o mesmo dogma, liturgicamente; seja a liturgia emocionada, em que todos se entregam à onda de emoção e choro - propõem-se-me, o tempo todo, que eu me entregue...
10. É para Deus, me dizem - e, se eu faço como querem, se eu não penso, tomo a coisa toda como isso: mas, no fundo, não é a Deus que me entrego, mas ao rito, ao mito, ao mantra...
11. Não me aborrece tanto a ladainha - aborrece-me que queiram a minha alma, aborrece-me que precisem reduzir as outras teologias a nada, aborrece-me que queiram constituir-se a única expressão de Deus no Universo...
12. Prefiro a singeleza de um kami no seixo. Mito por mito, o silêncio é magnífico.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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