1. O sujeito é crítico - epistemologicamente crítico. No fundo, ou se é epistemologicamente crítico, ou se usa a crítica como biombo para esconder outra nudez. Mas esse, não: esse é epistemologicamente crítico.
2. Quando ele toma o texto bíblico a ler, não aplica a crítica apenas ao texto - aplica à vida: há coisas que definitivamente não existem, não acontecem, são mágicas, míticas, quimeras, fantasias. Assim, se ele lê que a mula fala, automaticamente ele identifica o texto como fábula, ou, coisa pior, uma narrativa em que alguém pretendia manipular pessoas, ou, não pior, mas tão grave quanto, uma narrativa que quem escreveu acreditava mesmo em mulas que falam.
3. Mula que fala é só um exemplo. Tudo o que é fantástico e sobrenatural é razão para o crítico trazer à cultura, e desvendar a chave de leitura: o sujeito faz política?, arte?, literatura?, é doido?
4. O não-crítico é outro caso. Conservador, fundamentalista, tradicional, homem de fé - aqui, substituo todos esses rótulos por outro, em oposição ao rótulo anterior: ele é o não-crítico.
5. Como assim mulas não falam? Se Deus quiser, elas cruzam com você e nasce um messias! Para o não-crítico - e não importa o modo como ele produza sua leitura, o que está escrito é o que está escrito, e se o Sol parou, é porque parou, a Nasa até já fez as contas (aqui, isso não é piada!).
6. Eu entendo o crítico e entendo o não-crítico. Coloco-me, claro, ao lado dos críticos, mas entendo a cabeça do não-crítico, porque já fui um: todo aluno de classe de catecúmenos sai de lá um não-crítico, porque aquilo é modelo fordista de produção. Mas, depois, os parafusos caem...
7. O que eu não entendo é o não-crítico crítico.
8. É uma espécie dessas esquisitas. Ele é não-crítico: logo, para ele, a mula de Balaão falou. Ele tem um ouvido de parabólica - qualquer coisa que qualquer um fale, ele confere na Bíblia. E, para desmontar o que qualquer um fala, ele usa... grego e hebraico!
9. É divertidíssimo. Ele usa grego e hebraico, é até mestre, às vezes, há alguns doutores, também, para provar, exegeticamente... que a mula falou. É um peixe, não é uma baleia, não é um monstro - estão disputando os não-críticos críticos, consultando a raiz e a subraiz, o tronco e o trocado, a decidir que foi aquilo que comeu Jonas, guardou-se no goela por três dias e, um pré-Jesus, vomitou-o na praia, porque se foi peixe, baleia ou monstro, isso depende de você perguntar ao não-crítico-crítico A, ao não-crítico-crítico B ou ao não-crítico-crítico C, porque, que alguma coisa engoliu, guardou e vomitou Jonas, isso é fato, fato veraz e garantido pelas excelências do Espírito!
10. É um fenômeno psicológico...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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