1. As religiões são todas iguais? Sim e não.
2. Sim - as religiões são todas iguais.
3. Não, as religiões não são todas iguais.
4. Em que são todas iguais? No sentido em que são - todas, sem exceção - construções histórico-culturais, isto é, que nascem no tempo e dependem tanto da cultura onde nascem, que recebem e onde se desenvolvem.
5. Nisso em que todas são iguais, nada há nelas, me nenhuma delas, que não seja radicalmente humano - isto é, que tenha suas raízes na condição humana, antropológica, sociológica, psicológica. Nada. Nem os deuses, os anjos, nada, porque todos esses seres de espírito são elaborações da cultura, que os transporta e os trata como seres metafísicos (evidentemente que os efetivamente metafísicos, se os há, são-nos inacessíveis, logo, inapreensíveis e inefáveis - de onde decorre aquela máxima budista: se encontrares Buda, mata-o).
6. Seja africana, grega, israelita, árabe, chinesa, americana, oceânica, do norte, do sul, de onde quer que seja, são, todas, iguais.
7. E em que são diferentes? São diferentes em sua retórica, que está diretamente relacionada aos conteúdos de cada uma. Há as religiões intrinsecamente tolerantes - geralmente, politeístas. Por que as religiões politeístas tendem a ser mais tolerantes? Porque sempre cabe mais um deus e, logo, maus um culto e, logo, mais um religioso - é do sistema a diversidade.
8. Já as monoteístas, tendem a ser intolerantes. "Tendem". E, aqui, há que se fazer uma observação: o conteúdo monoteísta é intolerante, intrinsecamente intolerante. "Só pode haver um" - e arrancam-se as cabeças a todos os outros deuses. Em decorrência disso, quanto mais fundamentalista a comunidade, mais intolerante. Nem todo judeu, cristão e/ou muçulmano é necessariamente intolerante - aqueles que, em sua experiência pessoal, já assumiram controle sobre a fé, esses conseguem dizer não à carga intrínseca de intolerância do dogma e, a despeito dele, reconhecem direitos nos outros religiosos.
9. Aqueles, todavia, que vivem cegamente a sua doutrina, que se submetem incondicionalmente aos dogmas, são, compreensivelmente, intolerantes, e essa intolerância pode chegar às raias da violência física - expressando-se diariamente na forma de violência simbólica: o lado de cá, é Deus, o de lá, o diabo - retórica de púlpito que reforça o estado de intolerância dessa porção da fé.
10. Assim, enquanto acadêmico que sou, insisto: todas as religiões são iguais - todas, seja o candomblé, seja o cristianismo, seja o budisMo, seja o Santo Daime.
11. Todavia, enquanto homem político e republicano, insisto: não, nem todas as religiões são iguais, porque algumas são carregadas de intolerância.
12. Pois há que se ser intolerante com a religião intolerante: não tem direito de ser a religião que não dá ao outro o direito de ser - principalmente se essa religião é aquela que alega que a regra áurea de sua fé é fazer ao outro o que gostaria que fizessem com ela...
13. Além de intolerante, é hipócrita.
14. Assim como meu direito à vida co-determina o direito à vida de todo ser humano, o direito à existência de uma religião co-determina o direito à existência de todas as demais.
15. Isso deveria ser um valor intrínseco de todas as religiões. Algumas não o reconhecem. Para elas, no mínimo, a Justiça.
14. Assim como meu direito à vida co-determina o direito à vida de todo ser humano, o direito à existência de uma religião co-determina o direito à existência de todas as demais.
15. Isso deveria ser um valor intrínseco de todas as religiões. Algumas não o reconhecem. Para elas, no mínimo, a Justiça.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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