1. Talvez seja uma necessidade da política - o engajamento. Todavia, o regime de discurso do homem engajado é assustadoramente perigoso. Será a política uma área da ação humana que só pode ocorrer sob esse regime retórico?
2. Explico-me. Observem o discurso engajado. Ele é movido por uma "certeza", uma convicção, um ponto de auto-convencimento tão forte que, desde essa posição, o engajado se lança para frente, quantas vezes com a lucidez de um rinoceronte de cabeça baixa...
3. Não importa que tipo de engajado seja esse: o religioso, o político, o verde. Qualquer um deles assume uma convicção, uma certeza, uma "verdade" e avança. Todos os seus argumentos se dão com base nesse apoio fixo e irremovível.
4. O que ele tem de fazer, o que ele não pode fazer, o que os outros têm de fazer, o que os outros não podem fazer, tudo quanto ele diz está baseado naquele ponto fixo, naquele axioma inegociável...
5. Que ele obteve de onde mesmo?
6. E ele sabe do que se trata? Há alguma certeza universal, alguma comprovação indiscutível, válida para todos e todas, acerca daquela posição? Não. Só o engajado e os engajados estão certos quanto aquilo que se julgam certos.
7. Ele se pronuncia, conjugando verbos no futuro do pretérito? Ele se pergunta - e, principalmente, a você, ouvinte dele - se as bases em que ele se firma estão corretas? Ele assume, publicamente, e mesmo para si mesmo, a hipótese de estar errado? Não. Ele se pronuncia no Indicativo e no Imperativo. Ele não se questiona jamais. Ele nunca para e pensa que pode estar errado.
8. E, então, ele tem uma visão... para o mundo. Não, o engajado não se engaja com a causa da casa dele. É com o mundo. Com o modo como eu e você devemos viver - ele sabe qual é. Ele tem a visão: de Deus!, da Verdade, do Universo!
9. No campo de visão dele, você é tanto o inimigo quanto a peça a ser movida. E ele sabe qual é o jogo, qual é a regra do jogo e qual é o movimento adequado.
10. Por isso eu não gosto de ouvir engajados. Temo-os. Na religião, fujo deles, utilizem-se do disfarce que se utilizarem: identifico-os imediatamente, porque têm Deus na boca, usam-no a cada segundo, e sabem o que Deus quer. Na política, considero a coisa mais compreensível - a política virou teatro. Sempre foi, mas ela vai perdendo a vergonha de ser tomada como tal. Faz-se, pois, teatro de verdade e de mentira.
11. No verdismo, constrange-me ver gente que não entende nada de clima, de geografia, do regime oceânico, do Sol, de astrofísica, e abre a boca, com a convicção dos "iluminados", para falar de ecologia... É c-o-n-s-t-r-a-n-g-e-d-o-r.
12. De certa forma, é por isso que tenho horror à tendência que, há alguns anos, se encaminha a Universidade, de estetizar e narrativizar a pesquisa: tudo quanto é estético ou político torna-se, imediatamente, a-crítico. Pior: anti-crítico. E a crítica e a auto-crítica são elementos fundamentais para uma civilização de direitos e deveres.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Nenhum comentário:
Postar um comentário