quinta-feira, 14 de junho de 2012

(2012/484) Fragmentos facebookianos (UM)


1. Fragmentos escritos no facebook hoje - momentos "azedos" da alma, vai ver... São coisas para se escrever e dizer a sós, para si mesmo. Porque são coisas pesadas para o homem "público", para o homem de "comunidade", para o homem que deve satisfações ou exige satisfações. As minhas, devo-as ao espelho. E à vida que, eventualmente, me cobra bem cobrado. E que faz o homem de bem? Paga.


I
Não fosse uma raça pedante e presunçosa, arrogante e sem autocrítica, eu acho que o "evangélico" clássico - o clássico! - tinha tudo para ser uma excelente pessoa. Mas lhe sobe alguma coisa na cabeça e, aí, estraga tudo... Uma pena. Ainda haverá "salvação" para o evangélico clássico? O clássico, porque os neo e pós são um caso perdido.

II
O problema do evangélico clássico é que ele é cristão. Logo, seu problema é o mesmo problema do Cristianismo: ele tem, dentro de si, dois ovos - um de destruição, ira, julgamento, morte, ódio e toda a miséria que a religião tem. Outro, o amor, a compaixão, o perdão, a graça, toda a beleza que a religião tem. Não há Cristianismo que não seja ambíguo - bom e mau, a bomba atômica e a rosa, e isso porque a Bíblia é isso, a sua fonte política e existencial de fé é isso, um livro de Morte e de Vida, literalmente falando, de Ódio e Paz, de Condenação e Perdão. Assim, o Cristianismo e seus filhos sofrem dessa desgraçada gangorra de ambiguidades. O que podia ser bom até o infinito vê-se tomado do pior da espécie humana, porque não é capaz de arrancar de si uma parte de si mesmo, "verdades" de perversão e desgraça que estampam as páginas de seu cânon.

Não há salvação para a fé, para o cristão e para o Cristianismo se ele não arrancar as páginas más de seu livro sagrado - e não ajuda em absolutamente nada tentar ler como metáfora, como alguns querem, porque a metáfora é puro glacê, e, quando você morde, a massa vem no meio dos dentes...

III
Alguém me pergunta: porque você desconstrói mais do que constrói, rapaz? E eu, sempre levando a sério todas as questões que me são propostas, mesmo aquelas a que não devia dar atenção, respondo, olhando para dentro de mim mesmo: simples, é que ainda estou me desconstruindo até hoje, e só falo do que há em mim, na nudez da própria desconstrução. Talvez um dia, continuo a resposta, eu comece a minha fase de construção e, então, tenha respostas construtivas. Até lá, marreta e martelo. Antes de tudo, aplicados a mim mesmo.

E que ninguém nos ouça - quando você está na prisão e quer sair, não pensa em construir nada, pensa é em derrubar as malditas paredes.

Depois de muito correr pelos campos da fuga e de ver-se a quilômetros de distância das correntes, aí chega a hora de levantar nossa cabana.

Mas a vida inteira não será, senhores, essa fuga?

IV (15/06)
Ah, como cansa pensar, refletir, resistir, criticar, recusar, desconstruir, negar, denunciar... Cansa. Deprime. "Bom seria", diz a alma, "descansar, deixar-se levar". E o corpo concorda: "é, seria bom". 

Também esse é o mantra que as forças sociais que desejariam nosso total relaxamento desejariam que ouvíssemos: descanse, relaxe, desista.

Então, quando penso que esse é tanto meu desejo quanto dos que desejariam o controle de meu corpo e mente, penso que coisa curiosa que eles e eu desejemos a mesma coisa - que eu relaxe, que eu descanse...

Eu, porque preciso descansar.

Eles, porque, com meu descanso, mais rapidamente ainda assumiriam o controle que já tem sobre mim.

Assim, vem-me à mente a consciência de que a coincidência de intenções não é suficiente para revelar quem está do nosso lado - e quem é nosso inimigo.

Porque, nesse preciso instante, meu inimigo e eu desejamos que eu relaxe.

Nem o desejo dele nem o meu, todavia, resultará atendido...

O gado que sabe que é gado sofre mais que o gado que cuida pastar como anjos.

Mas ele sabe.

É uma tola vingança - mas é.

V (15/06)
Overdose de Deus e do diabo.

Acho que vivemos essa fase evangélica. Como nos dias de Davi, em que havia tanto ouro que não valia o que vale a prata, e tanta prata que não valia o que vale o latão, banaliza-se tanto Deus e o diabo que não ficarei surpreso de, passada essa fase, as gerações que vêm aí se sintam tomadas de náuseas por Deus e pelo diabo...

Acho que se devia guardar Deus em relicário. Acho que somente nos deveríamos referir a Deus em momentos de máxima sublimidade e intimidade...

Um aluno hoje, brincou: professor, nunca o vimos orar. E eu lhe respondi, nem orar nem fazer sexo, querido, nem orar nem fazer sexo...

São coisas sublimes demais para se tornarem banais.

Quanto mais Deus...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

2 comentários:

Cleinton disse...

Sim, a vida é mesmo isso; desconstruir o tempo todo, até o momento em que considerarem que já somos construtores de algo. Às vezes não se chega a esse momento, mas... Todavia, nesta direção, pergunto: por que o foco é apenas no "ismo" nosso? Será que é porque é o único que você conhece, grande osvaldo? Ou será que é o único pelo qual você tem zelo por ver mudado? Sinceramente falando, de onde você espera? Um grande abraço, amigo.

liberdade, beleza e Graça...

Peroratio disse...

Talvez, Cleinton, por duas razões: primeiro, a minha prisão foi esse ismo e não outro, e segundo, esse ismo corre em minha veia, e quanto m ais eu corro dele, mais seu fantasma me assombra.

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