segunda-feira, 11 de junho de 2012

(2012/477) As cores que o mundo ora tem, ora não tem

1. Julgamos que nossos olhos vêem o mundo...

2. Sim e não.

3. Sim: não houvesse algo lá para ser visto, não houvesse a luz que incide sobre as coisas, não houvesse as coisas sobre as quais a luz incide, não houvesse nos clones e bastonetes de nossos globos oculares, não houvesse o nervo ótico, não houvesse o cérebro - não houvesse uma única coisa dessas, e não veríamos nada.

4. O mundo está lá, a Tabela Periódica, as coisas, o ambiente, a universo físico, o "real".

5. Sim, vemos o mundo. E, todavia, ao mesmo tempo, não.

6. Não, porque a imagem que fazemos dele depende, também - e é sobre isso que estou falando aqui, hoje -, de nosso estado de ânimo.

7. Se você está muito cansado, deprimido, triste, se seu espírito está abatido, as cores do mundo desaparecem. Como um papel velho de anos, amarelado e sem graça, o mundo perde seu atrativo. A sensação que toma você é a de que não vale a pena, de que tudo é sem graça, sem gosto, sem cor.

8. Porque a percepção que temos do mundo é psicológica - as cores, é a alma da gente que põe. Naturalmente que não estou falando meramente do espectro da luz - mas do significado que isso tem para nós: dias gris, dias de luz, dias tristes, dias alegres, dias amargos, dias doces, dias desanimados, dias de libido: tudo isso é magia e alquimia da alma...

9. Quando se está num dia cinza, opaco, desinteressante, quando o corpo pede descanso, quando a alma quer silêncio, quando a poluição na alma ofusca o brilho dos olhos - não, não é a vida que perdeu o valor, é a sua capacidade de conceber valor para a vida que diminui.

10. Nesses dias, aquiete-se e espere. Talvez, caminhe. Mas não se trata de um dia em que se tomem decisões ou que se julgue por ele a vida inteira.

11. Porque ele vai passar.

12. E, quando passar, as cores do dia serão tão fortes que acharemos que é assim que as coisas realmente são: mas não - é justamente nesse dia que nossa máquina de pintar o mundo está funcionando a todo vapor.



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sobre ombros de gigantes


 

Arquivos de Peroratio