quinta-feira, 24 de maio de 2012

(2012/460) Suassuna: o problema do "gosto médio" - cultura nacional e Universidades brasileiras

1. Por uma dessas agendas do cargo que acabei assumindo nos últimos dias, encontro-me em Recife para, a partir de hoje até sábado, participar do 50º Forum da ABRUEM (Associação Brasileira de Reitores das Universidades Estaduais e Municipais). O tema do encontro é interessante. Tratar-se-á sobre a qualidade e avaliação da educação superior no Brasil, bem como sobre formas de cooperação interinstitucional. Há muito gente importante no encontro, reitores, doutores, pesquisadores renomados. Vou ficando assim do meu jeito, do meu jeito caipira, vendo, observando, conversando, aprendendo...

2. Hoje foi a noite de abertura. Estava programada uma palestra do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Contudo, em face de outras demandas, veio em seu lugar um assessor dele, um paraibano que assumiu o Pernambuco como seu estado paterno: Ariano Suassuna. Para mim foi uma troca para além de boa, ainda que nunca tenha ouvido discurso ao vivo do governador local.

3. O mestre Ariano Suassuna falou sobre as disciplinas mais importantes para ele, e que, segundo ele imaginava, provavelmente não constituem a prioridade das agendas da maioria dos presentes ao evento: História da Arte; Filosofia e Cultura brasileira. Falou sobre muitas coisas, todas interessantes. Repetiu o refrão, que já tinha ouvido dele, que as universidades brasileiras, na maior parte de sua trajetória, tinham ficado de costas para o povo, espelhando-se em grandes ícones do exterior, esquecendo ou ignorando as expressões filosóficas e culturais brasileiras.

4. Música, teatro, filosofia, sociologia e até religião deveriam ser ensinados nas escolas e universidades. Pois tratam de formas de expressão da cultura de cada povo, essa cultura que nasce sempre local e pode tornar-se universal no processo de recepção e atribuição de valor. O progresso tecnológico não pode avançar sem o lastro e o fundamento da base humanística.

5. Foi uma noite que valeu a pena; encheu o coração de alegria. Fui cumprimenta-lo, alegre em fazê-lo. Disse-lhe que o via como um o herói da obra de Cervantes, lutando contra moinhos. É um mestre. Disse que continuaria a sua luta, pois não pretende morrer tão logo. Quem faz como o mestre fez não fez como o mestre faz. Sobre a cultura vai aí uma frase de efeito dele: “A massificação procura baixar a qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau gosto... Nunca vi um gênio com gosto médio.”



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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