1. Os "conservadores" não me interessam - compreendo-os, até certo ponto os respeito, mas não me interesso por seu discurso. Quero apenas manter a distância segura - porque o discurso conservador, bate nele a latência do perigo: a qualquer momento ele pode tornar-se um fogo consumidor, como era o Deus de Israel, antes de ser castrado.
2. Espanta-me mesmo é o crente "progressista" e, principalmente, o dito ecumênico e pluralista. Ele se considera dialógico. Nada é mais presente em sua retórica do que o outro... Ele acha que tem ouvidos para o "outro"...
3. Será?
4. Acho que depende muito de quem é o outro. O outro é uma categoria relativa para o crente progressista. E, aí, eu vejo esse progressivismo como uma válvula muito bem controlada. Há nessa válvula uma instrução: deixar passar somente o acessório, mas impedir que aquilo que de fato é radical passe para o lado de cá.
5. Assim, o outro é somente o meu igual. O menos igual, eu tolero. O mais diferente, desconsidero.
6. Por exemplo, o não-cristão. Ou, para não ir tão longe: o "cristão" que rompeu com certas doutrinas ou que nunca as abraçou. O progressista não consegue ouvir esses outros crentes e os não-crentes. Tem frases de efeito na boca, mas elas não circulam, de fato, no sangue. No fundo, vejo-me obrigado a concluir, trata-se de um conservador não-confesso, um conservador de amplo espectro, mas de profundas restrições.
7. O discurso que usa para Deus é o mesmo, aquele padrão médio da fé, um pouco mais adoçado pela paixão ética, como se isso mudasse alguma coisa. Não parece ter aprendido nada com as Ciências Humanas, e, se as ciências não significam nada, também não ouviu o que disse o não-cristão: politeísmo, deísmo, panteísmo, ateísmo, espíritos, deuses, deusas, Universo-vivo, Universo-deus, orixás, kamis... Não, o crente progressista progrediu até ali, mas não pode ir até mais adiante...
8. Se ele ouvisse os não-cristãos, e se os levasse a sério, não é que admitiria que eles "também estão certos". Mas fatalmente admitiria que há modos muito diferentes de pensar o outro lado para que se possa fiar-se num ou noutro. Uma humildade mínima seria suficiente para fazer com que olhássemos para nossos discursos e os considerássemos mais um caso de imaginação a respeito do além: todos os discursos, nada mais do que discursos...
9. Mas não é o que vejo. O que vejo, é, no máximo, o "respeito" aos outros, reduzindo-os a uma forma não-explícita de mim mesmo: nos orixás, nos kamis, nos deuses, nas deusas, nos exus, em tudo está Deus, esse a quem sirvo e creio, e por isso os respeito... Há certa dose de verdade neles porque a minha verdade está neles...
10. Reduzir os outros à minha neurose, para tolerar as neuroses deles... Conceito interessante de teologia progressista...
11. Porque, se não os reduzo a mim mesmo, e, por outro lado, não posso deixar de perceber a Babel constrangedora dos discursos de fé, só me restaria assumir que meu discurso não passa disso: discurso, e em nenhum momento eu arriscaria assumir-me como que determinado por algo que não seja isso - eu mesmo.
12. Mas, não: no meu discurso, assumo que é Deus que está. Não o tomo como imaginação minha, como criação de minha tradição - mas tomo-o como "Ele", e o tomo como dado por meio do meu discurso, que, então, seria como que o tapete mágico por meio do qual "Ele" se dá e vem - quando, a rigor, o discurso é a própria criação dele...
13. Sei que é ir um passo adiante. Mas penso que isso seria progressivo.
14. O que vejo como progressivo por aí, a meu ver, não passa de um conservadorismo envergonhado, mas não suficientemente envergonhado...
15. Um progresso e tanto, mas sem sair do lugar.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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