domingo, 12 de fevereiro de 2012

(2012/180) "Nós não fazemos isso, não!" - deve ser o espelho deformado (rescaldo dominical do "caso" Bíblia e Oração)



1. Minha mente funciona como uma espécie de buraco negro semântico - quando ela está "focada" num assunto, quente das últimas reflexões, arranhada, ainda, das últimas rusgas, tudo que lhe passa diante dos olhos é tragado e cooptado para dentro do âmbito de sentido em que ela está mergulhada.

2. Sim, eu tenho consciência disso - e essa consciência me dá alguma dose de sanidade...

3. Por exemplo, um flagrante de cooptação de minha mente. Passei a última semana escrevendo textos sobre "Bíblia e Oração". Na sexta, à tarde, perguntei ao meu colega de trabalho (Jo)Zé Adriano, o que ele diria se ouvisse a tese de que o modelo pastoral clássico evangélico - Bíblia e oração, mas sem crítica - tivesse preparado o terreno para o tsunami neo-pós-tudo-que-já-se-viu evangélico - e ele me disse: nunca tinha pensando nisso...

4. Mas eu sim, a semana toda...

5. E, agora, zapeando pela Rede, encontrei essa tirinha do Horácio...


6. Todas as respostas que recebi de interlocutores pastores foram unânimes em dizer: nós não fazemos isso, quer dizer, nós, a pastoral evangélica clássica. Nós fazemos diferente. Nós damos Bíblia e Oração. Nós somos sinceros. Eles é que fazem tudo errado...

7. E, então, encontrei Horácio...

8. Vai ver é o espelho...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

7 comentários:

Cleinton disse...

"Não falo pelos outros; só falo por mim. Ninguém vai me dizer o que sentir" (Renato Russo/Cleinton).

Peroratio disse...

Perfeito.
Mas... quem falou de "sentimento"?

Osvaldo

Cleinton disse...

ninguém vai me dizer o que sentir.
ninguém vai me dizer o que pensar.
ninguém vai me dizer como pensar.
eu sou protestante; não preciso que alguém pense por mim e nem que faça a crítica por mim. para os dogmáticos da religião e para os dogmáticos da ciência eu dou uma imensa banana!!!

liberdade, beleza e Graça...

Peroratio disse...

E o que isso quer dizer? E o que isso "muda"? As pessoas podem ser, dizer e fazer o que desejarem, mas não é o desejo que faz da coisa a coisa que ela é - ela é o que é... Insisto: não estava nem estou falando de você ou de qualquer outro em especial. Estava e estou falando de uma prática: a não-inserção metacrítica do sujeito na crítica de si mesmo é automaticamente alienante. Só isso. Mas cada um vê as coisas como deseja. Não muda o que a coisa é. A única coisa que se poderia fazer a respeito é demonstrar que a realidade não é aquilo que se está dizendo ser. Voluntarismo não é a saída. Né, não, meu sociólogo preferido?

Cleinton disse...

se fôssemos falar em "saída", grande osvaldo, o ricardo teixeira teria de deixar a cbf, os ingleses teriam de deixar as malvinas, as grandes potências teriam de destruir seus arsenais nucleares (afinal, se o irã não pode, por que eles podem ter?!), o edir macedo teria de ser preso, algemado ao waldomiro santiago, a vontade popular na grécia teria de ser respeitada, pois é uma democracia, as campanhas políticas deveriam ser financiadas pelo governo e não por empresários que cobram favores depois, o eike batista teria de explicar como ficou bilionário (o pai, quando presidente da vale, roubou o brasil e fez esse "favor" ao filho, que nunca trabalhou antes e nem fez nada de relevante pela nação, o daniel dantas teria de ser preso.................
o desejo não muda nada?! discordo!! sem desejo a gente não corre atrás de reverter situações!! pagando com a mesma moeda, eu é que digo; a crítica pela crítica é que não muda nada!! tenho reparado meus amigos intelectuais falando sobre os pobres. eles ganham dinheiro e notoriedade em cima dos pobres, mas não conseguem mudar nada! o que muda é a vontade desses pobres em sair da condição em que se encontram e, se tiverem a sorte que eu tive de estudar, sair para um lugarzinho melhor. não, eu não entendo que você fala de mim em seus textos. no entanto, ao debochar de todos os comentaristas com a tirinha do horácio, você foi, mais uma vez, reducionista, colocando todo mundo num saco só. sendo bem sincero, me considero um protestante strictu sensu, uma vez que entendo que a melhor interpretação da bíblia é sempre a minha!! a grande maioria dos críticos conseguiu se estabelecer aonde a multidão não está, osvaldo. escrevem para seus colegas, mas não sabem o cheiro que o povo tem. talvez prefiram o cheiro dos cavalos! não conseguem abrir uma igreja sequer! só fecham!! sempre dizem; "tá errado! tá errado!!", mas nunca ousam dar palavras para além do seu tradicional "não!". precisamos, sim, de gente crítica. mas de gente crítica que ponha os pés na terra; sintam cheiro de chão! tenho de conduzir uma igreja, meu amigo; não posso chegar numa gente humilde e dizer simplesmente; "esqueçam tudo o que vocês sabem de Deus e de bíblia, pois eu tenho a resposta certa". não posso fazer isso, cara. por isso ainda estou dentro. o nosso presidente lula criticava de fora. só se tornou o que se tornou ao entrar e conseguir provar que é possível mudar a coisa estando dentro dela, ainda que o "malfeito" continuasse e continue ainda a existir no grande sistema que nos envolve e quase mata. paro por aqui, pois a tese me chama. há braços...

liberdade, beleza e Graça...

Peroratio disse...

Meu amigo, eu não quis dizer que desejo não muda nada no sentido de que ele não pode mover para a mudança. Eu quis dizer que só o desejo não muda nada: porque eu quero que a cena parece a maus olhos outra coisa além do que ela é, isso não quer dizer que ela seja outra coisa além do que ela é. Você manejou outro sentido em minha declaração.

Quanto à crítica pela crítica, eu falo para formandos em teologia. A sala de aula é meu round. Não falo para membro de igrejas, nem para crentes, nem para pobres. Falo para aqueles que sentam-se à minha frente e me cumprimentam: bom dia, professor. Eles "pedem" para ouvir, e ouvem. Aos que não estão previamente dispostos a ouvir, não me adianto a dizer nada.

Eu continuo achando, meu amigo, que você pega as coisas que eu digo e faz delas outras coisas.

Sei lá, o problema pode estar comigo...

Cleinton disse...

o "problema" não está contigo ou comigo, meu bom amigo. ele está no meio de nós; ele está entre nós; nos divide. e, como você mesmo disse, somos gladiadores, não é verdade? cada um dá uma pancada e tenta ressaltar um lado da coisa, oferecendo uma tentativa de resposta ao dito problema. mas isso que fazemos não mata, não; debate só enriquece a gente, como você sabe muito bem. há braços...

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