sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

(2012/167) Verdade e prescrição - e o Evangelho entrou no Novo Mundo



1. Somos cristãos. O Ocidente inteiro é. Nós, da América, somos. Os bolsões "ocidentais" da África são. Não há como discutir. Bíblias e orações marca(ra)m a alma desse povo que, quando não é católico, é evangélico ou, em alguns casos menores, protestante.

2. Há, de nossa parte, uma anistia ao passado-fantasma que nos ronda a porta. A anistia é um fenômeno político - não tem parte necessária com a realidade.

3. A verdade, todavia, não, ela é histórica e não presta contas à anistia. Foi por meio da Bíblia e da oração - e, claro, com mosquetes e outras armas de fogo - que o Novo Mundo foi dizimado. Batizado e dizimado - escolhe! Fechamos os olhos para rezar e, quando abrimos, Tutu, o que tínhamos nas mãos mesmo?

4. Não é possível, em face da verdade, tratar a presença da Bíblia e da oração em nosso meio como um fenômeno desconectado daquele fenômeno. Ainda se trata do mesmo fenômeno. Ele é anterior à América e continua operando: mas mostrou-nos a nós, americanos, o que ele significa e do que ele é capaz. Aqui, todavia, ingressou nas caravelas de 1.492 e 1.500: elas, as Bíblias, elas, as cruzes, elas, as orações - e a Bíblia e a oração estão hoje entre nós por causa daquele dia... E isso depois dos batismos e das dizimações - em massa.

5. A consciência cristã evangélica prescinde dessa memória: nem se lhe dá. A pastoral cristã sequer se vê à luz dessa história: é "libertária" a sua ação, gaba-se... Anistiou-se tão fundo, mas tão fundo, que a anistia tornou-se imemorial...

6. Que seja. A anistia, insisto, é um fenômeno político. De interesse.

7. Mas a verdade, senhores, não dá satisfações à política.

8. E a verdade é aquele sangue que clama desde a terra. 

9. A terra tomada de ontem, a consciência furtada de hoje - outros conquistadores (com a mesma retórica de salvação!), outras vítimas (vilipendiadas pela mesma máquina retórica!) e, todavia, o mesmo modelo: Bíblia e oração, Deus e fé - e ao diabo com a crítica...

10. E, senhores, pelo amor de Deus!, senhores, o que difere o homem dos bichos é justamente isso que lhe furtam - a crítica...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

2 comentários:

CLÁSSICOS DA MÚSICA EVANGÉLICA disse...

DUAS COISAS PARA PENSAR:

1. A história (processo) não nos ensina nada, a História (conhecimento) talvez nos ensine algo. A cristianilização é vista como um processo civilizatório proposto pelos países conquistadores. Acho um equivoco simplificar o cristianismo e própria Igreja Romana a esse processo. Claro que houve a participação da Igreja (Cristianismo) neste processo. Porém, mesmo o Catolicismo é mt mais plural do que se pensa - existe múltiplos catolicismo....Inclusive no Brasil que tinha um sistema de Padroado com diferenças marcantes com relação a Espanha (um afastamento maior de Roma no caso da coroa portuguesa). Quero dizer que não podemos ver o processo civilizatório ocidental cristão como única marca do cristianismo, pois existem outros fatores no processo (economico, politico e cultural). Assim a parte da Igreja que se "adequou" a conjuntura do mundo acabou por fornecer a fotografia histórica da Igreja neste período - matadores de índios e africanos.

2.Até o século XIX, o modelo de civilização é o cristão religioso, com os avanços da ciência, há uma "independência" da religião e construção de pilares "científicos" para a sociedade moderna. Ficamos todos deslumbrados com a ciência, até a teologia anuncia a morte de Deus. A evolução virá e a humanidade avançará, a ciência resolverá os problemas que ficaram. MASSSS, PORÉM, ENTRETANTO. Assim como o modelo civilizatório cristão teria promovido povos dizimados em nome da cruz, o modelo civilizatório científico produziu a II Guerra, Hitller e Auschwitz....UMA LÓGICA SISTEMÁTICA DE EXTERMÍNIO.

A QUESTÃO NÃO ESTÁ NO CRISTIANISMO, NEM NA CIÊNCIA, O PROBLEMA É A NECESSIDADE HUMANA DE IMPOR A CIVILIZAÇÃO A OUTRO....ISSO ACONTECE DESTE NINRODE E A TORRE DE BABEL.

ENTÃO? ACHO QUE O PROBLEMA ESTA NO HOMEM SEJA CRÍTICO OU RELIGIOSO, PRA MIM OS DOIS TEM A MESMA ESSÊNCIA.

Cezar Uchôa Júnior

Anônimo disse...

E a consciência furtada de hoje por debaixo da promessa de terra amanhã, mais ou menos subrepticiamente.
Pode ser a terra real - saúde, casa de campo, casa de praia, mansão, carros, negócios estabelecidos, família unida e em paz, a aprovação no concurso público - como prometem as igrejas neopentecostais, mas também outra terra, a virtual, aquela do post mortem, os novos céus e novas terras, as mansões celestiais, os galardões.
Bíblia na mão, mas olhos bem abertos para a terra lá adiante, desfocada, como não poderia deixar de ser, para o que está passando bem aqui debaixo do nariz.

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