1. Deixem-me ver se entendi... Usamos a "teologia do pecado original" para condenar o povo a um eterno estado de desgraça e culpa. Nisso que fazemos, pecamos, porque utilizamo-nos de uma dimensão teológica para justificar a exclusão que o "mundo" - naturalmente - faz das pessoas pobres e periféricas - da mesma forma como se fazia, então, há dois mil anos, contra cuja situação Jesus se teria insurgido evangelicamente... É isso? Entendi bem a primeira parte?
2. A segunda parte é: precisamos reverter a situação desse povo oprimido e desgraçado, ainda mais desgraçado por nosso gesto de impertinência teológica, que aplica a ele, já sofrido, a canga dessa teologia. O verdadeiro evangelho é o acolhimento dos excluídos, não sua condenação... É isso?
3. Na seqüência, vejam se eu entendi mesmo: malgrado a "Igreja" empregar contra os excluídos a "teologia do pecado original", em tese, "bíblica", na própria Bíblia, entretanto, essa "teologia" não tem, não, essa carga "perversa" - lá, ela serve tão somente para demarcar a distância ontológica entre o Criador e a criação... É isso mesmo? Foi isso que entendi: foi isso que se disse?
4. Bem, julgando que eu tenha entendido direito: não se pode "defender" a fonte da contaminação, se o que se quer é a defesa dos contaminados. Ainda que o desdobramento teológico do "pecado original" seja uma façanha cristã, uma amálgama de Gn 2-3 com Platão, não há qualquer possibilidade de converter a base escriturística sobre a qual essa catedral se ergue em uma espécie de tratado filosófico... Não. Gn 3 constitui instrumento de marca teológica sobre o campesinato, de resto, a população judaica, não para estabelecer uma "distinção ontológica entre Criador e criatura", mas para, político-religiosamente, fazê-lo crer tratar-se de ele mesmo um povo mau, digno de morte, cuja alternativa é o sacrifício sacerdotal no Templo - em poucas palavras, manipulação mítica de gente submetida ao poder do Templo. A narrativa é tão má, na origem, quanto seu uso "cristão" posterior, que nele se sustenta.
5. Posso estar totalmente equivocado, mas não acredito em correção da tragetória cristã, se, para a tentativa, evitamos tratar as coisas como são. Não é possível desincriminar os textos bíblicos originais - há maldades ali, perpetradas programaticamente contra gente como nós, leigos, mormente por sacerdotes. Enquanto não tivermos a coragem de dizer, nós mesmos, cristãos, o grau de maldade desses textos, e, assim prover meios de defesa da gente oprimida pelo uso que desses textos se faz, não sairemos de uma retórica para alívio de consciência, mas inútil, inescapavelmente imprestável, porque, a cada domingo, esses mesmos textos serão lidos com a mesma e bovina ingenuidade milenar - e, já disse o sumamente entendido Edgar Morin, enquanto nossos espíritos não entenderem, estaremos desarmados...
6. Leio a Bíblia sem rodeios. Para mim, ela é uma biblioteca de textos "bons" e "maus". Há textos ali do tipo "faça isso" e textos do tipo "não faça isso", mas não há manual. Há vezes em que ele mesmo diz de si, "faça isso", mas, se você não quer ferir ninguém, ser um bom homem - mulher -, cidadão, pai, não faça - desobedeça. E há textos que dizem de si "não faça", mas, pelas mesmas razões, desobedeça - se desejar, faça. Não são as próprias determinações desses textos a minha chave - mas um outro texto, uma outra determinação, dessa mesma biblioteca - tudo quanto queres que seja feito a ti, faça ao teu próximo. Meus amigos, se aplicarmos essa "lei" em nosso dia a dia, 90% do que fazemos, na condição de "cristãos", torna-se imprestável e - imediatamente - mau, porque detestaríamos que fizessem conosco a esmagadora parte do que fazemos aos outros.
7. Não negocio: ler a Bíblia com olhar ético, e, sem piedades dissimuladas e nocivas, reduzi-la a seu discurso intencional, muitas vezes mau. Só assim poderemos lidar com ela com sanidade. De outro modo, serviremos de cabo de transferência das mesmas maldades sacerdotais de então... E sempre em nome Dele, para maior glória de Deus...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. A segunda parte é: precisamos reverter a situação desse povo oprimido e desgraçado, ainda mais desgraçado por nosso gesto de impertinência teológica, que aplica a ele, já sofrido, a canga dessa teologia. O verdadeiro evangelho é o acolhimento dos excluídos, não sua condenação... É isso?
3. Na seqüência, vejam se eu entendi mesmo: malgrado a "Igreja" empregar contra os excluídos a "teologia do pecado original", em tese, "bíblica", na própria Bíblia, entretanto, essa "teologia" não tem, não, essa carga "perversa" - lá, ela serve tão somente para demarcar a distância ontológica entre o Criador e a criação... É isso mesmo? Foi isso que entendi: foi isso que se disse?
4. Bem, julgando que eu tenha entendido direito: não se pode "defender" a fonte da contaminação, se o que se quer é a defesa dos contaminados. Ainda que o desdobramento teológico do "pecado original" seja uma façanha cristã, uma amálgama de Gn 2-3 com Platão, não há qualquer possibilidade de converter a base escriturística sobre a qual essa catedral se ergue em uma espécie de tratado filosófico... Não. Gn 3 constitui instrumento de marca teológica sobre o campesinato, de resto, a população judaica, não para estabelecer uma "distinção ontológica entre Criador e criatura", mas para, político-religiosamente, fazê-lo crer tratar-se de ele mesmo um povo mau, digno de morte, cuja alternativa é o sacrifício sacerdotal no Templo - em poucas palavras, manipulação mítica de gente submetida ao poder do Templo. A narrativa é tão má, na origem, quanto seu uso "cristão" posterior, que nele se sustenta.
5. Posso estar totalmente equivocado, mas não acredito em correção da tragetória cristã, se, para a tentativa, evitamos tratar as coisas como são. Não é possível desincriminar os textos bíblicos originais - há maldades ali, perpetradas programaticamente contra gente como nós, leigos, mormente por sacerdotes. Enquanto não tivermos a coragem de dizer, nós mesmos, cristãos, o grau de maldade desses textos, e, assim prover meios de defesa da gente oprimida pelo uso que desses textos se faz, não sairemos de uma retórica para alívio de consciência, mas inútil, inescapavelmente imprestável, porque, a cada domingo, esses mesmos textos serão lidos com a mesma e bovina ingenuidade milenar - e, já disse o sumamente entendido Edgar Morin, enquanto nossos espíritos não entenderem, estaremos desarmados...
6. Leio a Bíblia sem rodeios. Para mim, ela é uma biblioteca de textos "bons" e "maus". Há textos ali do tipo "faça isso" e textos do tipo "não faça isso", mas não há manual. Há vezes em que ele mesmo diz de si, "faça isso", mas, se você não quer ferir ninguém, ser um bom homem - mulher -, cidadão, pai, não faça - desobedeça. E há textos que dizem de si "não faça", mas, pelas mesmas razões, desobedeça - se desejar, faça. Não são as próprias determinações desses textos a minha chave - mas um outro texto, uma outra determinação, dessa mesma biblioteca - tudo quanto queres que seja feito a ti, faça ao teu próximo. Meus amigos, se aplicarmos essa "lei" em nosso dia a dia, 90% do que fazemos, na condição de "cristãos", torna-se imprestável e - imediatamente - mau, porque detestaríamos que fizessem conosco a esmagadora parte do que fazemos aos outros.
7. Não negocio: ler a Bíblia com olhar ético, e, sem piedades dissimuladas e nocivas, reduzi-la a seu discurso intencional, muitas vezes mau. Só assim poderemos lidar com ela com sanidade. De outro modo, serviremos de cabo de transferência das mesmas maldades sacerdotais de então... E sempre em nome Dele, para maior glória de Deus...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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