segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

(2011/026) As fogueiras esperam - até quando?


1. Tenho dito, algumas vezes, que não se matam infiéis, hoje, porque a polícia não deixa. Muitos zelosíssimos cristãos, católicos e evangélicos, pudessem, purgariam a terra de Deus da presença dos infiéis - hereges, homossexuais, não-cristãos...

2. Até há pouco era assim, até que a Revolução Francesa "propos" um armistício à Igreja de Deus. A Igreja de Deus em si não mudou, de lá pra cá. Não, não mudou, não. Os discursos de misericórdia e pluralidade já havia antes e os há igualmente hoje, e em relação a eles não nos preocupamos. O problema é que rara e dificilmente esse discurso tem propulsão suficiente para alcançar os tronos imperiais, os grandes e os ridiculamente pequenos e presunçosos - eles e suas pequenas inquisiçõezinhas... Já o discurso e o pathos da morte, esse é auto-propelente e viaja a léguas por minutos, ganha alturas, angaria platéias...


3. Temo que, se a República cair, retornemos aos dias em que se matava em nome de Deus, dias que apenas adormeceram, mas não se foram de todo. Ainda "expulsamos demônios", ainda rezamos a anjos, ainda cremos nas mesmas coisas, ainda nos movemos sob os mesmos céus e infernos, ainda nos animamos pela "Verdade", ainda somos os mesmos, e as aparências não enganam, não. De sorte que, mudado apenas o cenário, mas não a alma da gente, temo, sinceramente, que as chamam desejem retornar a arder... E temo, porque as fogueiras aguardam... observam... vigiam...



4. Porque, meus amigos, o gesto que as anima e acende ainda é ensaiado pelos poderes religiosos, hoje, diante de nossos narizes, e na nossa carne. Sempre, é claro, para maior glória de Deus...





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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