sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

(2010/100) Estivador do tempo


1. Eu passo os dias a carregar nas costas os grãos da ampulheta - cada dia, um grão. Anunciam-se as escuridões da noite, cada vez que eu ponho o grão diário na cintura de vidro, e ele cai, para nunca mais. Eu, então, retorno cada manhã, torno a pegar meu grão de tempo e a carregá-lo nas costas, Prometeu menor. Cada manhã, um grão, cada noite, um depósito. Não sei quantos grãos deverei carregar, e, logo, nem quantas vezes alisarei a cintura da morte, a cada dia, um toque. Mas haja quantos grãos houver, carregá-los-ei enquanto eu desejar. Fingirei, grãos, que não sois vós a me impôr o fardo, mas ser eu mesmo, estivador do tempo - e a desejá-lo... Fingir-me livre - eis meu teatro de escravo...





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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