segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

(2010/081) De teólogos, serpentes e ciência



1. Antes de tudo, fiz-me teólogo. Em termos formais, foi o que estudei. Ninguém tem culpa. Foi assim, e pronto. Em sendo assim, não me envergonho de ser teólogo, e procuro sê-lo da melhor forma possível. O que não é fácil de medir, porque a régua da Teologia tem duas vezes mil anos - e ainda mais - e uma régua tão velha não é confiável (e nisso já me revelo!), de modo que só me é possível medir-me por meio de minha própria régua...

2. Digo isso para que não se pense que a citação que apresentarei logo aí à frente é uma clava com que dou na cabeça de terceiros. Sim, ela é uma clava que bate na cabeça de terceiros, desde que Thomas Henry Huxley a escreveu - em 1860 (cf. Carl Sagan, O Romance da Ciência, 4 ed., Francisco Alves, 1985, p. 295). Mas é em minha própria cabeça que eu bato com ela - porque eu, sobretudo, sou "teólogo"...

Teólogos extintos jazem à volta do berço de toda ciência, da mesma forma que as serpentes estranguladas do lado do berço de Hércules

3. Se você digitar a metade dela no Oráculo, o Google remeterá você a cinco ou seis páginas (em português). Chama a atenção o fato de que elas aparecem, sempre, pela metade, apenas a porção "Teólogos extintos jazem à volta do berço de toda ciência". A porção seguinte - "da mesma forma que as serpentes estranguladas do lado do berço de Hércules"- não aparece. Nunca. Mas devia.

4. Hércules, filho de, em uma relação "extra-conjugal", Zeus e Alcmena, esposa de Anfitrião, ainda no berço, atrai os ciúmes e a ira vingativa de Hera, esposa de Zeus, deusa que envia serpentes para matar o menino. Inutilmente, porque Hércules, sendo Hércules, mesmo que ainda um bebê, estrangula e mata as assassinas...

5. Qual terá sido o foco analógico que T. H. Huxley viu entre, de um lado, o conflito entre a Ciência e a Teologia, e, de outro lado, a história de Hércules e as serpentes? Terá sido, meramente, o fato de os teólogos, como as serpentes, aproximando-se do berço, logo são "vitimados"? Ou, antes, terá sido o fato de que, assim como as serpentes se aproximam do berço de Hércules - para o matar! -, assim também faziam os "extintos teólogos", agora mortos, nesse caso, aproximando-se do berço da ciência para a matarem ali, quase nasciturna?

6. Por que - pergunto - um "teólogo" como eu se aproxima do berço da Ciência e nem é estrangulado por Hércules, nem está morto? Por que eu consigo sorver toda a Ciência que me vem à boca, aos olhos, à mão? Será porque eu não me aproximo do berço da Ciência como as serpentes de Hera?

7. Se for assim, parece que Huxley não registrava tanto o feito da Ciência, mas o dos teólogos - uma tentativa assassina de matar seu maior inimigo - em vão.

Thomas Henry Huxley





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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