domingo, 30 de maio de 2010

(2010/398) Entrevista sobre Karl Barth


1. Os alunos do primeiro período do Curso de Bacharelado em Teologia da Faculdade Batista do Rio de Janeiro (FABAT), para realizar trabalho acadêmico da disciplina Teologia e Método, do Prof. Edson Fernando, pediram-me que gravasse uma entrevista sobre Karl Barth. Aceitei. Filmaram-na e me deram a cópia dos 17 minutos, que, agora, ofereço aos interessados. Segundo os entrevistadores, Edson a teria considerado "radical". Deve ser. Quem me conhece sabe que tenho um modo hiperbólico de me expressar, e, além disso, de assim considerar as questões, também as da Teologia. É possível, pois, que minha perspectiva tenha sido acentuadamente crítica. Com efeito, não sou um apaixonado da Teologia dialética (neo-ortodoxa).

2. Karl Barth salvou a Teologia clássica. Talvez ela sobrevivesse, de um jeito ou outro, principalmente em sua vertente fundamentalista/literalista nos Estados Unidos (Karl Barth é contemporâneo e, de certo modo, ressalvadas as necessárias diferenças, parente próximo do movimento estadunidense The Fundamentals, que preconizava a adesão à fé como sinônimo inegociável da adesão a doutrinas positivas). Seja como for, na prática, Karl Barth convenceu a Teologia a saltar, para trás, o século XIX, e construiu uma ponte entre a Modernidade e a Idade Média. Daí ser considerado teólogo neo-ortodoxo, o que de fato é: se o século XIX desaparecr, e alguém ler Barth, não saberá que cem anos - e que cem anos! - terão sumido do mapa. Consolidou-se como um dos principais nomes da Teologia (cristã, obviamente) do século XX, encontrando poucos rivais à altura, e, sob certo aspecto, assumindo uma posição hiperônima sobre outros teólogos importantes do século, como Bultmann, Tillich, Moltmann, Pannenberg e a longa fila dos teólogos ontológicos.

3. Nem todos concordarão com minha leitura de Karl Barth. Não tem problema. O diálogo sempre está à disposição do desejo de interação crítica. Nesse sentido, os vídeos podem ser utilizados, seja como ilustração de "como se deve pensar sobre Karl Barth", seja o seu oposto: ilustração de "como não se deve pensar sobre Karl Barth". Meu juízo de um lado, o seu de outro, vamos caminhando pela longa estrada curva da Teologia.

Entrevista de Osvaldo Luiz Ribeiro sobre Karl Barth



4. O quê?, os óculos escuros? Ah, é que meus óculos haviam quebrado, e estavam na ótica. Como preciso de grau, estava usando meus óculos escuros, que são de grau, e que só uso, eventalmente, para dirigir.



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

1. Em tempo: a) aos 2.17 minutos (parte 1), onde eu disse "a mesma doutrina", eu deveria ter dito "a sua própria doutrina" - um erro de expressão que, no final, corrige-se. Barth não considerava a hipótese de que cada igreja tivesse sua própria doutrina, já que ele concebia um Cristianismo construído sobre a Palavra/Rvelação/Doutrina; b) aos 5.55 minutos (parte 1), ouça-se "século XX", não "século XIX".

2. Roteiro para crítica:
a) a forma como Karl Barth concebe a relação entre a Igreja e a Doutrina é, de fato, como sugeri, de inclinação "católico-romana", isto é, uma "unidade" positiva de expressão normativa? Estou seguro quanto a isso, mas há quem discorde. Não, certamente, Hans Küng, que louvou o teólogo como o único, no século XX, a possuir envergadura para unificar os dois cristianismos.
b) a marca fundamental da Teologia barthiana é a positividade da Doutrina, o que implica numa identificação implícita entre Doutrina, de um lado e, de outro, Palavra e Revelação? Penso que sim.
c) em que sentido é possível afirmar que posições teológicas tão (aparentemente?) distantes como as de Bultmann e Tillich possuam, no fundo, uma base barthiana? A meu ver, naturalmente, o vínculo com Nicéia, ainda que Tillich use o conteúdo desse vínculo como plataforma de correlação entre a fé e a cultura (algo estrategicamente equivalente tenta certa vertente da "Teopoética", justamente aquela que usa a fé cristã como plataforma para a "comparação" com a Literatura), e Bultmann use-o como ingrediente do sacramento homilético, digamos, como a farinha de trigo na Eucaristia.

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