Alguém me pergunta em privado: se crer muda a vida da gente, por que deixar de crer...
É uma pergunta simples, mas a resposta adequada de simples não tem nada.
Ah, se a questão da crença se resumisse a "mudança de vida"...
A questão da crença está longe de resumir-se a isso.
Se fosse apenas isso, não estaria aqui, ativista...
A questão da mudança de vida é um substrato, um subproduto, um elemento retórico. Tem efeitos positivos? Tem, claro. Mas é um elemento parcial e de uma parcela dos que estão envolvidos com a religião...
E mais: a mudança de vida, se com isso quero dizer tornar-me religioso, faz de mim um sujeito recriminador, incriminador, acusador, era melhor a vida antiga...
Eu compreendo que o drogado vá para a igreja e que a fé lhe seja maior do que o crack. Mas eu lamento que ele vá para a igreja para criticar outros religiosos, falar mau de gays, acusar os outros. Não lhe fez grande ajuda a religião - permanece drogado.
As transformações que me parecem boas - tornar-se um bom marido, um bom filho, uma bom pai, um bom cidadão, um bom profissional, eu prefiro acreditar que seja tarefa da família, pai e mãe, da escola, até certo ponto, e da sociedade como um todo. Transferir essa responsabilidade para a religião é, de um lado, enganar-se, criando uma retórica que está longe de ser real, já que a religião está cheio de pilantra e, se é você quem decide se vai ser pilantra ou boa gente na religião, então você é maior do que a religião e ela não serve para nada nesse campo moral... Segundo, é apenas uma forma de legitimar, equivocadamente, a religião...
Não é uma questão fácil...
Mas eu sei que homens e mulheres que foram educados por seus pais, mães, avós, tendem a ser boas pessoas. Não é infalível. Quando o sujeito dana a ser ruim, vai ser ruim. Mas é o mesmo com a religião: não faz ninguém que não queira ser bom, ser bom.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Nenhum comentário:
Postar um comentário