
2. A maturidade epistemológica não é o relativismo, essa baboseira que inventaram para brecar o desenvolvimento da crítica materialista e racionalista que sustentou o advento dos direitos humanos e a democracia (cf. Losurdo).
3. A maturidade é o reconhecimento de que as nossas opiniões e nossos discursos funcionam encaixados em um eixo ideológico e só fazem sentido nele.
4. Você, então, reconhece isso - e não tem como se livrar disso: relativismo não existe: você sempre, absolutamente sempre estará girando em torno de um eixo - o que pode ocorrer é que o eixo pode ser mais ou menos elástico, mas, ainda assim, ele é seu eixo.
5. Na prática, a maturidade permite que você compreenda que, assim como o outro fala a partir do eixo dele, você fala a partir do seu.
6. Sim, você pode sair metodologicamente de seu próprio eixo, ver-se em seu próprio eixo e analisar-se, desde fora dele, na condição daquele sujeito/você-mesmo/outro que pensa assim e assado porque se situada no eixo em que está...
7. Você se vê como um outro, e entende sua posição ideológica.
8. Isso é maturidade.
9. Eu fico surpreso com o fato de que gente que se diz progressista, inteligente, que estuda, faz pós, mestrado, doutorado, não consiga operar esse campo antropológico.
10. Das duas uma: ou considera que sua posição é "absoluta" e "isenta", situada entre posições ideológicas de terceiros, ou descamba para um relativismo retórico que oculta sua própria ideologia.
11. Há um ponto médio em que anulamos dialogalmente ambas ideologias, meta-teoricamente, e compreendemo-nos mutuamente como homens ou mulheres situados em eixos ideológicos. Só depois de calibrada essa percepção, só depois de universalizada essa consciência, se pode dialogar de fato: antes disso, é fraude, fingimento, engano, apologia de gaveta, evangelização de elite, conversa mole...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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