segunda-feira, 22 de outubro de 2012

(2012/709) "Meu projeto? Que te faças a ti mesmo! Podes fazê-lo?"

Deus, diz o fervoroso, quero ser como tu queres!

Deus, diz o místico, quero fazer a tua vontade!

Deus, diz o crente, que andar no teu caminho!

E o que Deus lhes diz, mas eles não ouvem?

Algo assim...

Quando te fiz, eras uma coisa de carnes frágeis... Tua mãe te espremeu pela fresta que fiz, tu nem sequer disso sabes, e tu caíste no chão...

Se ela não te pega, lá tu ficas, ficas e morres, apodreces e os vermes comem...

E o que tu saberias disso?

Nada! Os vermes, escuta-me, te comeriam, e tu disso nada saberias...

Por quê?

Porque te fiz vazio, sem nada dentro, oco como um ovo sem nada dentro, casca, papel de embrulho, pote sem nada dentro, buraco, oco de árvore, toca de tatu, sem tatu...

Pensas, criatura! Se eu te querias do meu jeito, te farias do meu jeito! Tu és tardo de cabeça ou lerdo de sentidos? Se eu te quisesse do meu jeito, do meu jeito te faria...

Se te queria azul, te faria azul. Se te queria quadrado, te faria quadrado. Se te queria robô, te faria robô.

Como te quis, criatura?

Te quis vazia...

Te fiz vazia criatura, criatura!

Para quê?

Para que tu te preenchesses à medida que tu crescesses.

Te queres azul, faz-te azul!

Te queres quadrado, faz-te quadrado!

Mas se és tu que queres - porque o que eu quero é que tu te faças, porque, se eu quisesse do meu jeito, do meu jeito de faria...

Faze-te, pois, tu, do teu jeito: tua cara, teus valores, teus conceitos, teu caminho: faze-te - dá-me essa alegria!

Não me digas mais isso - quero ser como tu queres: seja como tu mesmo queres ser, que é isso que quero!

Não me digas nunca mais que queres fazer minha vontade? Faze tu mesmo a tua vontade que é o que eu quero!

Não me digas nunca mais que queres andar no meu caminho! Faze tu mesmo teu caminho e anda nele!

Sejas apenas bom! Sejas apenas feliz! Sejas apenas o que tu és, porque te fiz vazio para te encheres a ti mesmo com o que tu te fazes ser a cada dia...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu amigo, Osvaldo, de dentro das minhas indecisões quanto a ser ou deixar de ser, quanto a ser isto ou aquilo, quanto a crer ou não e, se sim, em quê? dou de cara com isso com que tu nos sais!
Lindo, confortante e desesperador!
A poesia toda é linda... poesia da prosa mesmo, que poesia nunca foi só um verso debaixo do outro.
O conforto de não se sentirem mais as fôrmas das formas que se nos querem impor.
O desespero dos pés fora do chão, da perplexidade diante das imensas possibilidades à frente.
Obrigado, amigo!
Continua você também sendo apenas feliz!
Grande abraço!

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