quarta-feira, 13 de junho de 2012

(2012/481) Do homem e da "natureza"


1. No vídeo disponível no post anterior, o professor afirma que a "natureza" não existe, que é uma invenção do homem. Imediatamente, reformula sua declaração: trata-se de uma "categoria" pensada pelo homem. Melhor dito desse modo - que a natureza existe não pode haver dúvidas, mas que ela não existe enquanto natureza, mas enquanto "mundo físico" e "vivo", que não atende em sua essência pelo nome de natureza, tão somente nós assim a tratamos, um tanto quanto miticamente, disso não podemos nos esquecer.

2. E o homem veio de lá. E o homem está lá. Em certo sentido, o homem é natureza. Em certo sentido, não.

3. Depois de Darwin, duas coisas estão claras. O homem é natureza em processo. Outra: o homem sai da natureza quando adquire consciência e possibilidade de inventar para si um modo distinto de vida.

4. Na natureza, o forte come o fraco. Na espécie humana, o mesmo pode se dar - e se dá. Mas, diferentemente da natureza, podemos escolher viver em igualdade, sem dizimações entre nós.

5. Todavia, ainda assim, teremos de viver devorando-a - seja o gado, seja a alface. Somos predadores, como a vida é predadora. A bênção divina que é a vida é, ao mesmo tempo, a maldição de matar e devorar.

6. A natureza tem seus nichos de cooperação. Num formigueiro, soldados, operárias, rainha, zangão, todos vivem em comunidade e para o bem comum. É um traço que temos conosco, esse cooperativismo possível. Todavia, guerras de formigueiro são comuns - se uma soldado de um formigueiro passa no caminho de outra soldado de outro formigueiro, uma das duas vai morrer. Também somos assim - país contra país, da mesma forma como, ontem, era vila contra vila, tribo contra tribo.

7. Precisamos vencer essa bairrismo de país, de pensar a humanidade como família. Todavia, a natureza estará sempre em nós, e poderemos, a qualquer momento, matar, devorar, comer, e mesmo uns aos outros.

8. Temos meio segundo de vida na história da vida. Nossa espécie é nova e frágil, e as formas de vida que ela inventa estão longe de se tornarem genéticas. Assim, ainda são os genes hereditários que nos fazem, a despeito da monogamia, poligâmicos potenciais, a despeito das religiões de "amor", assassinos frios - também em nome de Deus.

9. O homem não saiu da natureza. Nem sairá. Porque não passa de um experimento dela, um experimento que saiu, quem sabe, do controle dela, porque ela brincou de inventar a consciência.

10. Talvez ela esteja esperando para ver se, com a consciência e o poder dos possíveis, os homens conseguirão fazer tudo diferente dela, ou se, ainda que com a consciência, sua existência comprovará que, no Universo, vale uma única regra - a regra carcará, que pega, mata e come... O Universo, sem saber que o faz, o homem, deliciando-se de o fazer... Os homens e os deuses que ele inventa...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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