sexta-feira, 24 de junho de 2011

(2011/394) Senso comum, realismo crítico e "analemas"


1. Uma coisa é o que o senso comum diz: o Sol passa por cima de nossas cabeças todos os dias, e isso porque ele anda ao redor da terra. Outra coisa é você bater uma fotografia do Sol sempre na mesma hora, no decurso de um ano - o resultado será um analema, ou o "esboço" de uma figura geométrica que representa as posições "relativas" do Sol durante toda aquele ano, mas considerando-se apenas aquela hora específica. No caso de o Sol ser fotografado assim da Terra, a figura é um oito inclinado, ou o sinal de infinito, se preferirem.

2. Transcrevo, a seguir, post de Eternos Aprendizes. Na seqüência, volto aos comentários pessoais.



Olhando para trás no tempo ao longo de 2010, você consegue se lembrar em que posição do céu o Sol estava diariamente exatamente às 9 horas da manhã? Talvez não. No entanto, não se preocupe, a resposta está aqui: o Sol, ao longo do ano, forma nos céus uma figura celestial parecida com o número 8 ou, diriam alguns, o símbolo do infinito . Esta curva é um analema.

Esta imagem composta do analema foi registrada no quintal de uma residência na pequena cidade de Veszprem, Hungria. O mosaico é composto de 36 exposições distintas do Sol capturadas as 9:00 UT, espaçadas ao longo do ano, sobrepostas a uma imagem de fundo feita com filtro solar. A imagem de fundo foi obtida na ensolarada tarde de 9 de outubro de 2010 (13:45 UT).

À esquerda vemos a sombra do fotógrafo, Tamas Ladanyi (membro do TWAN).

As posições do Sol nos solstícios de 2010 estão no extremo superior (21 de junho) e na posição mais inferior (21 de dezembro) da curva do analema.

Nas datas do equinócio (20 de março e 23 de setembro) o Sol estava ao longo da curva, no meio caminho entre os solstícios. A inclinação do eixo de rotação do planeta Terra e a variação da velocidade ao longo de sua órbita elíptica ao redor do Sol se combinam para produzir esta bela curva de analema.

Devido às leis de Kepler, todos os planetas exibem analemas, dependendo, contudo, a forma da figura da inclinação do eixo de rotação e da maior ou menor elipticidade da órbita. Por exemplo, o analema visto de Marte, em vez da forma em 8, assemelha-se a uma gota, conforme a composição abaixo:



3. Pois bem, de certo modo, um analema já saiu do senso comum. Porque só a percepção de que, a cada dia, o Sol se encontra em um ponto relativo diferente do céu já demanda observação crítica. Mais do que isso, a percepção de que o conjunto sistemático dos pontos posicionais do Sol, todos na mesma hora, formam uma determinada figura, também já deixou para trás o senso comum. Estamos, aí, na fronteira entre senso comum, observação e teoria, estamos entrando nos campos operacionais do realismo crítico.

4. Claro, sabemos que a figura não é absolutamente real. Todavia, ela é o efeito de alguma coisa bastante real. Não apenas podemos saltar da figura para a posição "real" do Sol em relação à Terra, como podemos saltar da posição real do Sol, em relação à Terra, para a figura que ele formará nesse ou naquele conjunto de horários.

5. Não se pode, sob nenhuma circunstância, falar, aí, de arbitrariedade. Seja o Sol, seja a Terra, seja o observador - tudo isso é real. Mesmo o analema é realíssimo, conquanto sua realidade não seja física. De igual modo, também os métodos não são físicos, são "seres de espírito" - suas exigências, sim, traduzem-se em ações pragmáticas muito concretas.

6. A pesquisa, se e quando pesquisa, lida, ao mesmo tempo, com os seres físicos, os seres de organização e os seres de espírito. Pretender pesquisa em que apenas os seres físicos contem, seria pretender que a vida humana resumisse-se ao físico. Por outro lado, pressupor uma pesquisa que seja, afinal, pura arbitrariedade, mero palpite, simplórios jogos de linguagem e palavras é, no fundo, ainda achar que somos almas fantasmáticas a pirilampiar pelo cosmos ou metafóricas mariposas delirantes...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

PS. Por indicação da Cris (comentário abaixo), leve o vídeo até 2:27 e veja o analema que o náufrago desenha na parede para controlar a passagem dos dias. Legal, Cris! Obrigado pela dica...



Um comentário:

Robson Guerra disse...

Oi, Osvaldo

no filme "Náufrago" a personagem principal desenha um analema na parede da caverna para saber em que mês do ano se encontrava.

Legal!!!

Um abraço!

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