sábado, 23 de janeiro de 2010

(2010/069) Do conhecimento acerca do fenômeno religioso


1. Num post recente, transcrevi um texto de Noam Chomsky, no qual ele enumera dez estratégias dos meiOs de comunicação para a "manipulação" das massas. Quero transcrever a décima estratégia, e falar dela... mas aplicando-a ao meio em que laboro: a Teologia, de modo geral, e às lideranças religiosas, de modo específico, isto é, à pastoral.

2. Eis a transcrição:

10 - Conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmos se conhecem. No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o individuo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.
3. Sei que, dizendo-o, aborreço um bocado de gente, mas direi, assim mesmo. Se eu estiver errado, mais cedo ou mais tarde, a jaca cai na minha cabeça, e pronto (se bem que nada impede que ela caia, mesmo em estando eu certo...). Vamos lá.

4. Desde há duzentos anos - transporto-nos para o começo do século XIX, então - que o conhecimento sobre o "homem", de modo geral, e sobre a "cultura", de modo mais específico, e, particularmente, sobre os fenômenos religiosos, vem crescendo vertiginosamente - e se acumulando. A cada década se sabe mais, e melhor, do que nas décadas anteriores. Ora, mesmo um sujeito não religioso, de posse das informações científicas acerca dos fenômenos religiosos "sabe" muito mais do sujeito religioso do que o próprio sujeito religioso - que eventualmente não possua tais informações.

5. Não importam os argumentos subjetivistas e intimistas: ah, só quem exprimenta, blá blá blá... Mesmo o que nós religiosos chamamos de "experiência" é objeto de estudo, e de conhecimento, quer seja da Antropologia, da Psicologia, da Sociologia, e, mais recentemente, das Ciências Cognitivas. De modo qe não vem ao caso o que o sujeito sinta ou deixe de sentir, porque até tais sensações - as tais "experiências" - podem ser facilmente produzidas, induzidas, manipuladas, fabricadas (e o são!) (e, nesse caso, o parágrafo de Chomsky aplica-se integralmente).

6. É por isso que não considero boas - para ficar num adjetivo menos pesado - as estratégias de lideranças religiosas ditas progressistas que, em lugar de levar a sério o conhecimento que temos dos fenêmenos antropológicos, psicológicos, sociológicos, científico-cognitivos, envolvidos em uma "experiência religiosa", antes, ainda fomentam interpretações mitológicas, metafóricas, absolutamente dissociadas de educação e emancipação critica, as quais resultam na manutenção de sistemas de relações injustificáveis. Não sei se o argumento de boa intenção ajuda em alguma coisa...

7. Penso, seriamente, no seguinte juízo de valor: qualquer relação com o fenômeno religioso que desconsidere as informações científicas sobre ele, que as sonegue, em nome de Jesus ou do Diabo, tanto faz, é "criminosa".

8. Temos, de um lado, uma multidão de líderes reigiosos absolutamente ignorantes - em sentido estrito -, que mantém, por negligência, incompetência ou má fé, milhões de pessoas em absoluta alienação de si mesmos enquanto sujeitos religiosos, pessoas que se lêem a partir de paradigmas medievais ou ainda mais antigos. De outro, lideranças ditas esclarecidas (?), mas cujo jogo permanece a manutenção das massas naquela mesma plataforma mitológica medieval. Onde está o "progressismo", aí - na arrogância de se consideram melhores que aqueles outros líderes, ignorantes? Mas, se fazem a mesmíssima coisa?!...

9. Temo que a prática da comunidade de líderes religiosos - maximamente os cristãos - encaixe-se perfeitamente na estratégia denunciada por Chomsky. Se meu temor tiver fundamento, miseráveis os homens e as mulheres que caírem em suas garras. Porque cuidam, todos, estarem indo para o céu...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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