segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

(2009/639) De Gadamer/Vattimo ao conflito "muçulmano" europeu

1. Perguntava-me, e ao Jimmy, dias desses: qual teria sido a razão histórico-política para que Gadamer, primeiro, e Vattimo, depois, estabelecessem uma plataforma operacional sobre a qual se podia afirmar, quanto à cultura, aquilo que flamenguistas sabem desde o berço: uma vez Flamengo, sempre Flamengo... Dizendo-o de outro modo: uma vez europeu, uma vez cristão, sempre europeu, sempre cristão (Vattimo escreveu - ser ocidental é ser cristão)... O que estaria "por trás" disso?

2. A rigor, um processo parecido começara com o segundo Heidegger, quando, depois de ter chegado ao máximo a que o pensamento emancipado/iconoclasta havia chegado - não há modelos de espécie alguma para a espécie humana, nem há fundamentos, quaisquer que sejam, salvo a condição "aberta" da espécie -, dá uma guinada de 180º em direção a um "calvinismo" secularizado, fazendo o homem ser sobredeterminado pela Linguagem.

3. À tese "psicológica" da Linguagem, em Heidegger, segue-se a (mesma) tese, mas, agora, histórico-cultural, de Gadamer - Tradição -, que Vattimo torna mais clara: Cultura. Depois de um período de "hegemonia" do sujeito sobre o meio - Schleiermacher, Dilthey e "o primeiro" Heidegger, segue-se uma reação "conservadora" - a Linguagem, a Tradição, a Cultura são, a rigor, o Ser... Platão redivivo, mas com as asas cortadas...

4. Heidegger, eu desconfio, trabalhou para tornar sua filosofia útil ao contexto alemão da década de 40/50. Gadamer produz sua filosofia em meio à Guerra Fria, aos movimentos estudantis europeus da década de 60. Vattimo, está de cara com o "problema" muçulmano.

5. Penso que Heidegger, Gadamer e Vattimo estão "na defensiva", sentindo a pressão sobre a Europa - nesse sentido, constituem plataformas de "combate". Essa pressão, com Vattimo, é ainda maior, porque os "colonizados" europeus, agora majoritariamente muçulmanos - não deviam ter-se tornado cristãos? - invadem acintosamente a "capital" do sistema colonial... Os muçulmanos das colônias européias são o equivalente nordestino em êxodo para o Sudeste (a reação da elite paulistana em face desse contingente populacional não lembra a reação européia às invasões muçulmanas...?).

6. Há uma hipótese aí, que precisa, claro, ser testada. Sugiro, a fortiori, a leitura do texto que extraio do site do Nassif, que trata justamente do conflito muçulmano na Europa, que, na Suiça, acaba de proibir a construção de minaretes... Gostamos de invadir a terra alheia e meter lá catedrais. Na hora oposta, fazemos leis. Eis, meus amigos, a hipocrisia cristã, a origem da prática capitalista da "reserva de mercado". Mas é claro que aí vão questões para muito além de cristãos versus muçulmanos. Há, aí, questões bem mais político-econômicas.

7. A Europa é, hoje, um barril de pólvora...

A recente votação na Suíça que culminou na proibição da construção de novos minaretes chocou e enfureceu muçulmanos em todo o mundo. Mas a medida polêmica também reflete uma sensação crescente de desconforto entre outros europeus que sentem dificuldades em aceitar a visibilidade cada vez maior do islamismo (continua).


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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