sábado, 12 de dezembro de 2009

(2009/634) Pergunto ao Haroldo


1. Nós, Haroldo, "teólogos cristãos", estamos envolvidos até a alma - a próstata! - com as Escrituras... Por outro lado, seja você, seja eu, caímos na "besteira" de adentrar os portões da crítica histórica, da hermenêutica crítica, da crítica das ideologias, ou seja, do iconoclasmo...

2. Bem, a posição de teólogos nos põe uma Bíblia diante de nós: grosso modo, a da Tradição, lida pela Tradição, m(c)ontada por ela, para ela, com ela.

3. Porém, nossa posição de "historiadores/exegetas" nos põe, quanto a essa mesma Bíblia, diante de um sem-fim de perícopes, de narrativas desmontadas, um mosaico ao contráro, pedaços de eventos perdidos na noite dos tempos.

4. Meu bom Haroldo, nesse final de 2009 - a quem, de fato, servimos? A qual das duas "versões" prestamos reverência, e, para manter uma metáfora litúrgica, culto?

5. Quem somos nós - hoje - meu amigo Haroldo?



OSVALDO UIZ RIBEIRO

2 comentários:

Cristianismo Livre disse...

eventualmente não se pode assumir a postura dos saudosos judaítas? Ora adorar a uma divindade, ora curvar-se a outra? Não são as possibilidades de hermenêutica que caracterizam o "santo texto" como palavra de Deus? Sim,pois apenas sendo Deus, ele - o texto - assumiria tantas possibilidades quantas forem os olhos que o esquadrinha, uma hermenêutica para cada olhar que o percorre?

Claro que tudo isso com clareza de detalhes e apontamentos explicativos. Quando usar as lentes da tradição, avisaremos. Quando usarmos as lupas "histórico-críticas", avisaremos. Para que todos, e não só os "leões" tenham acesso às miragens sobre e sob o texto. Seria a vez das ovelhas deleitarem-se com as vertigens emanadas do "santo texto".

Peroratio disse...

Conheço e reconheço a "saída". Como saída, encontra hoje seus "saidores". Eu - não posso mais. Digo-o por que: se preciso fazer do texto-deus outra coisa que aquilo que ele não foi, quando de fato o foi, não me resta outra percepção que não a de que não preciso (mais) do texto. E se, contudo, mantenho-o, quando, de fato, prescindo dele, pergunto: por que o mantenho? E a resposta corta-me a carne, como a navalha do Besouro - é porque, sem o texto, as massas terão, apenas, minha cara, eventualmente, cínica. Minha relação "terapêutica" (?) com a "massa" impõe-me a manutenção do sofisma textual...

Não, se eu me der conta de que não preciso da fala que o texto contém, mas satisfaz-me a retórica das imagens possíveis que, dele, posso fazer, por mim e de mim mesmo, sair, resta-me apenas pô-lo nas águas, e despedir-me dele.

Contudo, minha relação com esse texto é, ainda, profunda, e minha relação é com o que ele foi, não com o que fizeram dele, muito menos com o que eu possa dele fazer.

Além disso, a minha certamente não é essa hermenêutica suspeita - é a hermenêutica da suspeita. Aquela, justifica (?) seus atos de apropriação indébita. Esta, desmonta até o chão as retóricas políticas da Tradição.

O preço de ser iconoclasta é que, está bem, caem as maldades retóricas, mas caem, também, as suas supostas bondades...

Cai o rei de ouros, cai o rei de paus, cai, não fica nada!

Osvaldo Luiz Ribeiro

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