quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

(2009/629) Seres de corpo


1. Os primeiros versos de Cântico dos Cânticos são extraodrinários - em sentido estrito. Abrem-se com uma... mulher. Essa mulher... fala. Essa mulher fala... de desejo... Essa mulher fala de desejo... de beijos. Essa mulher fala de desejos de beijo... de boca... Da boca dele... Não, não há outros versos assim... Bem, talvez, sob esse aspecto, mas, certamente, ele não está presente in loco, a visão de um Yahweh sentado ao barro, a modelar, com os dedos, o corpo humano, cada pedaço dele...

2. Eis, aí, meu problema com o Iluminismo, se tomado em sua hipérbole - a Razão. Nós, homens e mulheres, não somos seres - apenas - de palavras e de razões, de sentido e de significados. Somos, sobretudo, seres de sensações, de percepções, de estados de alma. De modo que uma melodia, sem palavras, pode provocar em nós as mais extraordinárias experiências, de tal sorte que justifica-se uma espiritualidade sem palavras, mas, talvez não, sem som...

3. Não trocaria o Iluminismo pela Idade Média. Mas gostaria de negociar com as Luzes a sua conscientização de que eu sou mais do que... cérebro, e que, afinal, também é meu cérebro quem me dá as percepções dos sons - que, contudo, traduzem-se em arrepios, como o arranhar suave das unhas de Bel. Também aí, meus amigos, palavras não servem à razão, mas à loucura... sem me entendem...





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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