quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

(2009/619) Da (minha) mística - e culpa


1. Não acho que a mística seja mais relevante que a pastoral. A mística é algo pessoal, particular, subjetivo, estético. A pastoral, ao contrário, é algo comunitário, político, "objetivo". Posso vivenciar minha mística em casa, solitário. Pastoral assim é impossível. A pastoral só pode ser - é assim que a concebo - não como um impulso místico na direção de Deus, mas um impulso humano na direção do homem.

2. A mística faz com que corramos para o deserto, em busca de paz e solidão. A pastoal, por sua vez, há de nos fazer correr à 25 de Março, se me entendem. A mística pensa em "espírito". A pastoral, em carne, sem aspas. A mística é de fechar os olhos. A pastoral, em todos os sentidos, "de abrir os olhos".

3. Todavia, há uma doença, um fungo, uma ferrugem, uma praga, uma casta, corroendo a pastoral, fazendo-a mística de massa. Há, por aí, uma mística pastoral, que nem é mística nem pastoal, de virar os olhos, de esgoelar-se, de encher palácios de pedra, de ajuntar dinheiro, de alienar pessoas. Para essa pastoral, eu viro as costas. Fujo dela, diabo, da cruz. Ela tem o nome de pastoral, mas é pecado, é crime, é maldade.

4. Queria voltar ao tempo dos curas d'alma, do "estilo" rabínico, quero dizer, da vocação pastoral sem a megalomania contemporânea dos evangélicos megalomaníacos, perdidos, doentes. Queria uma pastoral de pouca gente, de sentar à mesa, por assim dizer.

5. A verdade é que, para a pastoral de hoje, de aqui, de agora, tornei-me absolutamente imprestável, seja para ela, seja para o redil que ela pressupõe. E, ao fim e ao cabo, a culpa terá sido minha... Manda a conta.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sobre ombros de gigantes


 

Arquivos de Peroratio