sexta-feira, 14 de junho de 2013

(2013/587) Da utilidade da religião para... agentes religiosos


No Congresso da Faculdade Unida, que acabamos de concluir, os discursos sobre a religião - mesmo na conferência que, em tese, seria mais propriamente ciências das religiões - trataram a religião de modo positivo. Não vi exceções sistemáticas. Quando Raimundo Barreto terminou sua conferência, de resto pertinente, eu, todavia, lhe perguntei sobre o lado mau da religião, que as palestras sobre a boa e dignificante religião estavam deixando de lado - ele, simplesmente, não me respondeu...

Com todas as chances de erro e equívoco - e não os temos, conquanto me envergonho, quando flagrado neles (todavia, temo mais a omissão do que a vergonha) -, penso que a religião, mormente a monoteísta, é intrinsecamente má. Por várias razões, mas, fundamentalmente, porque lida com sujeitos necessariamente em estado de alienação.

Marx já o disse, e não é por outra razão que teólogos e filósofos (no fundo, teólogos disfarçados!), fazem força para jogar na lata do lixo o século XIX e Marx, que a religião é ópio - e, seja para a direita, seja para a esquerda, seu uso é sempre opiáceo: sempre: mesmo no caso da teologia da libertação, o caso mais de esquerda que conheço nesse campo: ainda que os agentes sejam, todos, gente formada, os religiosos que eles têm em vista são homens e mulheres hipnotizados pela crença num mito como realidade - um Yahweh libertador, um Jesus dos pobres... Naturalmente, que, em termos políticos, prefiro esse discurso ao de um Yahweh à moda do Sl 2, mas a questão aqui é o estado de alienação das pessoas religiosas - e, então, nenhuma diferença.

A religião, todavia, é verdade, aqui e ali, faz coisas boas.

Em que condições, senhores?

Quando, controlada pela ética, pela política, ela se castra, castra a divindade, e impõe aos seus agentes e subordinados político-epistemológicos que operem, também eles, nos limites dessa ética e política - como é o modelo que Habermas recentemente defende para uma religião pública: bonita, bem comportada, ciosa de sua condição de sob controle social...

Convenhamos, isso é uma caricatura da religião: ela se deixa condicionar pela ética, logo, é menor do que a ética; se deixa condicionar pelas leis, de modo que é menor do que as leis. E - eis o ponto - se são as leis e a ética que dão as faces da sociedade que se quer e, por isso, com elas se limita a ação da religião, cá entre nós, por que instrumentalizar a religião como agente de dignificação do homem?

Temo que isso se dê pelo poder que tem a religião, pode, para a direita, de enquadrar as pessoas e, para a esquerda, de desenquadrar a direita. A religião é apresentada como é - e sempre de modo parcial, pinçado apenas o lado que interessa ao discurso agenciador e, ainda assim, de modo diversionista - pelo fato de ser útil ao programa político dos agentes: os de direita e os de esquerda.

No fundo, se você toma as conferências e as reduz ao seu "o que de fato queremos?", revela-se um projeto que, no fundo, é político-social que, em termos político-democráticos, não era para ser discutido em jogos de religião, mas em projetos de ação popular.

A religião é útil - não necessariamente para o povo, mas, certamente, para os agentes... religiosos.





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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