
Fé cega, Faca Amolada (1975) - Milton Nascimento e Ronaldo Bastos:
“Fé Cega, Faca Amolada” é uma espécie de continuação de “Nada Será como Antes”, ou seja, uma canção de oposição ao regime militar brasileiro, escrita em linguagem bem mais agressiva, ao mesmo tempo em que mostra um entrosamento maior da parceria Milton Nascimento-Ronaldo Bastos: “Agora não pergunto mais pra onde vai a estrada / agora não espero mais aquela madrugada / vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser faca amolada / o brilho cego de paixão e fé, faca amolada...”.
O título tem origem no super-grupo pop inglês Blind Faith, de efêmera existência e nascido da ruptura de dois outros grupos, Cream (Eric Clapton e Ginger Baker) e Traffic (Steve Winwood), em 1969. O único disco do Blind Faith era um dos favoritos de brasileiros, como Ronaldo Bastos e Gilberto Gil, que viviam em Londres na época. “Fé cega” é pois “blind faith”, tendo o adjetivo “amolada” o duplo sentido de “afiada” e “contrariada”.
A seqüência melódica relativamente simples e repetida de forma insistente em “Fé Cega, Faca Amolada” não seria suficiente para alcançar o brilhante resultado mostrado no disco. Para a obtenção deste resultado devem também ser creditadas as notas picadas do sax-soprano de Nivaldo Ornelas, criando um clima nervoso em perfeita consonância com o objetivo da canção, o interlúdio musical decididamente pop, a voz convicta de Milton, usando com perfeição o falsete, e a voz aguda de Beto Guedes, que soa às vezes como um eco ao canto de Milton.
Este elepê, intitulado Minas, é um marco na carreira de Milton Nascimento, pois além de ter sido o primeiro a colocá-lo num patamar de alta vendagem, dobrando sua média anterior, consolidou a sua carreira de grande astro da música brasileira (A Canção no Tempo – Vol. 2 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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