domingo, 26 de setembro de 2010

(2010/470) Do que cuidamos estar do outro lado


1. O Não-Deus dos budistas, os Deuses todos dos hinduístas e de todos os demais politeístas, o Deus Único de cristãos, judeus e islamitas/muçulmanos, o Deus-Universo dos panteístas, o Deus-bom-e-mau, o Deus-só-bom - tudo isso, bem como cada um dentre eles, é mito humano...

2. ... e lá se vai a antiga correição dos afobados a gritar "heresia"...

3. Há que se ouvir o que estou dizendo com profundidade ainda maior do que se ouviu Tillich dizer que "Deus é símbolo para Deus", porque, quando o disse, fez separação ontológica ente os dois "Deus(es)", como a dizer que um era o Verdadeiro, enquanto o outro, o simbólico, era o "teológico". Muito aparentemente moderno, mas, todavia, ainda a antiga ontologia, a resguardar, agora, longe das palavras, mas, ainda cativo nelas, o Deus-Ser. Quer-se avançar, mas com o umbigo preso às tripas maternas...

4. Ora, meus amigos, eu não posso dizer que esse Deus-Ser seja mito. Nem que não seja. Não posso dizer que Seja, nem que Não Seja. Ele é? Não é? Dele, do Ele, do Não-Ele, dos Eles, de o que e quem quer que seja(m) - nada, absolutamente nada posso falar. Nem eu nem ninguém. Nem os que se calam nem os que palram verborrágicas homilias. Especular? Até posso - mas para quê? Para daqui a dois dias esquecer de que se tratava de especulação e desde o resultado disso danar a fazer política? Não. Prefiro o silêncio, conquanto, com o canto do olho, a alma observe, curiosa... O ístério é-me um inolvidável Buraco Negro...

5. Quando digo que são mito, digo dos discursos. Se há algo além dos discursos, não sei, ninguém sabe. Todavia, sei que todos - sem exceção - discursos, são mito. Seja o discurso zulu, seja o harekrishna, seja o maori, seja o calvinista, seja o católico, seja o santodaimiano, seja o umbandista, não importa qual nem quem, é mito.

6. Chegar a essa conclusão não é de todo fácil, porque as situações concretas da vida, que, um dia, aprofundaram a estética do Mistério em política do Mistério, permanecem aí - a vida, a morte, a dor, a alegria, o sofrimento, o sexo, o prazer, a perda... De modo que se de um lado, a consciência avança em profundidade, a vida concreta fica mais pesada, mais crua, mais nua.

7. A consciência disso grita aos nossos ouvidos a necessidade de uma humanidade melhor, porque contará cada vez menos politicamente com os deuses-mito, e dependerá cada vez mais de si mesma.

8. E eis a questão: saberemos viver assim?, aprenderemos a viver assim?


OSVALDO LIZ RIBEIRO

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