sexta-feira, 20 de agosto de 2010

(2010/452) Do AT e do corpo


1. O que me faz gostar tanto do Antigo Testamento, da Bíblia Hebraica, é o fato de se tratar de uma coletânea de textos corporais. A "alma", aí, não vai além de equívocos de tradução - o que aí se traduz alma é, antes, garganta. Gosto de imaginar a cena do apoplético Paulo diante de uma comunidade a desdenhar da ressurreição - porque desdenha do corpo, ao paso que Paulo considera que, sem ressurreição, isto é, sem corpo, neca de pitibiriba...

2. Sim, sim, eu sei que o Cristianismo "paulino/agostiniano" converteu o AT em pote, e pôs nele um fantasma. Mas eu não leio a Bíblia Hebraica pela cartilha da tradição - antes, contra ela, no sentido não de lutar contra ela, nas de ler em sentido contrário, não daqui pra lá, mas de lá pra cá. Não me interessa nem um pouco o que Paulo e Agostinho eventualmente pensem do AT. Interessa-me o próprio AT. E se você vier com essa conversa fiada de que não se pode entender o outro, então como crê que me entende? - como crê que eu entenderei que você não me entende?

3. Gosto, sim, da corporeidade. Acho que esse gosto pelo carbono é um traço de meu conformismo - conformo-me à matéria, ao planeta, à Terra. E gosto disso. E àqueles que insistirem em me lembrar que há pecado e mal na Terra, não custarei a retrucar que não foi em outro lugar que não o olho próprio do céu que nasceu o Mal - pelo menos é o que insiste em dizer a tradição, useira e vezeira em dar tiro no próprio pé...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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