sábado, 30 de março de 2013

(2013/374) Órbita excêntrica - ir sempre e voltar toda vez


1. Sinto-me como um cometa em órbita excêntrica em torno de mim mesmo...

2. Sinto que, a cada cumprimento da elíptica, meu apoastro se distancia, vou mais longe, para o cada vez mais escuro e infinito...

3. Mas, excêntrica ou não, é órbita, e caio de volta, em direção a mim mesmo, para, então, lançar-me outra vez...

4. Paradoxo: esse movimento de ir e de voltar, sempre, é da ordem da identidade, da manutenção daquele núcleo "eterno", enquanto é chama, que se guarda a si mesmo na transformação ininterrupta das elípticas...

5. Lanço-me a mim mesmo cada vez mais longe, mas sempre volto, porque, a despeito da imensidão lá fora, sei quem sou: eu sou essa coisa de lançar-se e querer voltar, de saber o caminho e ir sempre além, de querer ir embora e de voltar sempre para casa...

6. Acho que sempre desdobrei-me de mim mesmo - e que as oposições que me habitam são eu mesmo, síntese dos contrários que me constituem...

7. Dois deles, os nomeio: a racionalidade inegociável do Real e a mística feérica do Inefável.

8. A racionalidade - ou será a mística? - me lança para o meu cada vez mais longe apoastro, ao passo que a mística - ou será a racionalidade? - me trás de volta, sempre, para meu mais íntimo periastro. Cada vez mais longe e, todavia, ou, por isso mesmo, mais perto...

9. Olhar para os dois abismos - o de fora e o de dentro - promovem-me a vertigem suficiente para viver, eu, a animar-me, Ogro e Mago: Ogro, a devora-me a alma mística, Mago, a encantar-me a mandíbula de Ogro... O Ogro devora o Mago que encanta o Ogro que devora o Mago que encanta o Ogro...

10. Tao.







OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Um comentário:

  1. Senti-me nesse texto e peço-lhe a autorização para transcrevê-lo da forma abaixo no meu blog. Posso? Ou cometi o pecado de adultério?

    Sinto-me como um cometa
    em órbita excêntrica
    em torno de mim mesmo...
    Sinto,
    a cada cumprimento da elíptica,
    meu apoastro em distância...
    vou mais longe,
    para o cada vez mais
    escuro e infinito...
    e caio de volta,
    em direção a mim mesmo,
    para lançar-me outra vez...
    movimento de ir e de voltar,
    sempre,
    ordem da identidade,
    manutenção do núcleo "eterno",
    enquanto é chama,
    que se guarda a si mesmo
    na transformação
    ininterrupta das elípticas...
    Lanço-me a mim mesmo
    cada vez mais longe,
    mas sempre volto:
    a despeito da imensidão
    lá fora,
    sei quem sou:
    eu sou essa coisa
    de lançar-se e querer voltar,
    de saber o caminho e ir sempre além,
    de querer ir embora e de voltar sempre
    para casa...
    desdobro-me de mim mesmo,
    as oposições me habitam,
    são eu mesmo,
    síntese dos contrários que me constituem...
    um me lança para o meu cada vez mais longe
    apoastro,
    outro me trás de volta,
    sempre,
    para meu mais íntimo
    periastro.
    Cada vez mais longe e mais perto...
    Olhar para os dois abismos
    - o de fora e o de dentro -
    promovem-me a vertigem
    suficiente para viver,
    eu,
    a animar-me,
    Ogro e Mago:
    Ogro, a devorar-me a alma mística,
    Mago, a encantar-me a mandíbula de Ogro...
    O Ogro devora o Mago que encanta o Ogro que devora o Mago que encanta o Ogro...

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Peroratio.