1. O que me parece sintomático na situação filosófica/epistemológica/hermenêutica/teológica dos séculos XX e XXI, naquela parte em que eles tratam de apresentar o fim da metafísica, o que costumeiramente, então, se confunde com o fim da verdade, é que não se deu conta, ainda, de que a crítica que se aí faz está contaminada pelo mundo que se critica - no fundo, do qual se tem profunda saudade. Depois de Descartes, que cuidando superar a Antiguidade, repete o gesto de Platão - "cogito ergo sum" -, a Filosofia viciou-se com a Verdade - de modo que, agora, diante da Nudez e do Vazio - nos termos em que ela costuma se expressar - desespera da Não-verdade. Na tentativa de arrumar a casa, filósofos-arquitetos ensaiam uma saída fantasmática - fingirmos que já estamos no céu, e que a matéria é, afinal, um nada desprezível.
2. O que me parece sintomático é que essa Filosofia só consegue pensar a verdade a partir da Teologia - ainda que não seja Teologia o que essa Filosofia faz. Mas a Verdade sempre foi, até hoje, algo divino, fosse Platão, fosse Aristóteles - e toda a correição dos filósofos e teólogos subseqüentes (também ambos eram teólogos!). O Romantismo, depois de uma série de passos preparados desde os séculos das invasões árabes, acabou com a brincadeira. Não que dissesse - calem-se, não há Deus algum lá fora!, mas disse: calem-se, que aqui dentro só estamos nós, sós! O que, na prática, dá no mesmo. Aí, literalmente, foi um Deus-nos-acuda...
3. A Teologia mais reacionária agarrou-se a Parmênides/Platão Barth, por exemplo. Outras, desintegraram a positividade, mas agarraram-se à mística eclesiástica cristã (Bultmann, Tillich). Fora das naves, mas, em espírito, ainda aí dentro, uma filosofia que se diz "hermenêutica" raciocina assim: se não podemos ter uma verdade divina, então não te(re)mos verdade nenhuma! É a pirraça do século XX. Se Deus está morto, então tudo está morto... Uma alma assim a pensar está em profundo sofrimento...
2. O que me parece sintomático é que essa Filosofia só consegue pensar a verdade a partir da Teologia - ainda que não seja Teologia o que essa Filosofia faz. Mas a Verdade sempre foi, até hoje, algo divino, fosse Platão, fosse Aristóteles - e toda a correição dos filósofos e teólogos subseqüentes (também ambos eram teólogos!). O Romantismo, depois de uma série de passos preparados desde os séculos das invasões árabes, acabou com a brincadeira. Não que dissesse - calem-se, não há Deus algum lá fora!, mas disse: calem-se, que aqui dentro só estamos nós, sós! O que, na prática, dá no mesmo. Aí, literalmente, foi um Deus-nos-acuda...
3. A Teologia mais reacionária agarrou-se a Parmênides/Platão Barth, por exemplo. Outras, desintegraram a positividade, mas agarraram-se à mística eclesiástica cristã (Bultmann, Tillich). Fora das naves, mas, em espírito, ainda aí dentro, uma filosofia que se diz "hermenêutica" raciocina assim: se não podemos ter uma verdade divina, então não te(re)mos verdade nenhuma! É a pirraça do século XX. Se Deus está morto, então tudo está morto... Uma alma assim a pensar está em profundo sofrimento...
4. Todavia, trata-se de um equívoco - o que não devia acontecer na região dos mestres do pensamento... Não é verdade que, se não há - para nós - verdades divinas - não há, igualmente, verdades humanas. Isso não apenas é uma inverdade, mas uma inverdade ridícula. Tem-se que estar muito contaminado com os caminhos tortuosos da escolástica teológica para se partir de - e chegar a - um raciocínio assim.
5. Ora, o que chamávamos de "verdade divina" não era nem verdade, nem divina. Era mito. Está certo que gostávamos daquilo. É compreensível. Mas crescemos. Aprendemos que nossa situação humana é eco-situada, e que "verdade", para nós, consiste na adequação ecossistemica ao meio - do que depende substancialmente a própria vida. Em algum momento do passado, rompemos nossa relação com a "terra", e cuidamos que nossa ligação fosse com as estrelas. Pois bem, não é. Ao menos não naquilo que nos é possível dizer. Sim, podemos imaginar o quanto nos convier - Teologia, Literatura, Cinema: tudo são meios de nos transportarmos para o não-trivial, porque nos cansamos do óbvio. Do quê? De acordar, comer, beber, defecar e morrer.
6. Todavia, ainda que cansados, não podemos perder de vista que a verdade é essa, e que os mitos que nos animam não podem perder sua consciência e consistência de mito - porque o resultado é a alienação de si, cuja conseqüência é a manipulação política da parte dos "eleitos".
7. Restam para nós as verdadeiras verdades - aquelas que nos permitem mantermo-nos vivos, nossa relação com a terra, com a matéria. Para além daí, debanda a verdade, e entra em cena sonho, a fantasia, o delírio, a magia. Sim, disso também vivemos, se, contudo, não tiramos os pés do chão.
8. Filósofos, deixai de lado a saudade das verdades impossíveis. As que nos contam são bastante humanas. Humanas, sim, mas por isso mesmo, verdadeiras. Pobres teólogos das verdades divinas, pobres filósofos das não-verdades humanas... Se olharmos bem de perto, veremos que se trata da mesma pessoa, em circunstâncias diferentes...
OSVALDO LIZ RIBEIRO
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