1. Não, não tenho planos de tornar-me um palestrante de Espiritualidade. Mas não posso me furtar a tratar do tema, porque ele demanda nossa atenção, nosso tempo, nossa paciência.
2. Digo de uma vez: não me deteria na reflexão de modelos de Espiritualidade que não tenham passado pelo século XIX. Na prática, então, rompo relações com muito do que se propala aqui e ali sobre Espiritualidade, em Congressos a xis a inscrição. Se você parar na porta, sentirá o cheiro da Idade Média, conquanto as luzes sejam neon, e os celulares toquem, deselegantemente.
3. Uma Espiritualidade que tenha do homem uma perspectiva doutrinária, absolutamente descolada do que aprendemos sobre o Homem desde o advento das Ciências Humanas, ah, não, não me apetece, e soa-me como mito medieval.
4. Para mim, a Espiritualidade deve ser pensada a partir de tudo que aprendemos sobre nós, inclusive a partir do fato - de conseqüências absolutamente produndas - de que somos produtores de deuses, e que, em última análise, a despeito de entregarmo-nos a ela, também ela, a Espiritualidade, é um "produto" nosso.
5. Não, não quero pensar a Espiritualidade dentro de credos pré-iluministas. Pode-se. Mas não quero. As Ciências Humanas são, doravante, a minha plataforma, a minha lista de imposições. Sobre elas, a partir delas, nelas é que me encontrarei com minha própria Espiritualidade.
6. Lamentavelmente, o que chega a mim, de Espiritualidade, é um discurso - nos meus termos - anacrônicos. Pronunciado há trezentos anos, puxa vida!, soaria como moderníssimo. Hoje, está há duzentos aos atrasado. É anacrônio. É - sempre segundo meus termos - até falso.
7. E deixo de lado a religiosidade popular. Dela, nem me aproximo, criticando-a. Mas aos "eruditos", aos doutores, aos mestres, ah, não "perdoo" o - nos meus termos - engodo. Está bem: decidiram jogar na lata do lixo o século XIX. Mas, atenção, eis a questão: direito deles, diante da verdade, fazê-lo? Está bem: alguém que devesse tomar uma droga qualquer tem o direito de deixar de fazê-lo. Mas o fato de o fazer, anula os efeitos de o fazer? Se o século XIX fala de nós, e o desprezamos, sabemos, mesmo, quem somos?
8. É muito curiosa a sensação de ver-se tomado de emoção "religiosa" e ter a consciência de que, no fundo, ela é produzida em nossa própria consciência, por conta de nossa adesão afetiva a determinada narrativa... No fundo, não vejo outro caminho para a paz entre as espiritualidades. E não aderi a essa perspectiva por causa disso. É simplesmente a conseqüência natural dela. Tanto melhor. Por outro lado, duvido que qualquer Espiritualidade atrelada a doutrinas, quanto mais de estilo clássico/monoteísta/conquistador, possam, algum dia, internamente, resolver a questão da paz. Só traindo-se a si mesma uma Espiritualidade de tipo doutrinário pode resolver-se com as outras. E, no entanto, bastaria a ela olhar-se no espelho do XIX...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Digo de uma vez: não me deteria na reflexão de modelos de Espiritualidade que não tenham passado pelo século XIX. Na prática, então, rompo relações com muito do que se propala aqui e ali sobre Espiritualidade, em Congressos a xis a inscrição. Se você parar na porta, sentirá o cheiro da Idade Média, conquanto as luzes sejam neon, e os celulares toquem, deselegantemente.
3. Uma Espiritualidade que tenha do homem uma perspectiva doutrinária, absolutamente descolada do que aprendemos sobre o Homem desde o advento das Ciências Humanas, ah, não, não me apetece, e soa-me como mito medieval.
4. Para mim, a Espiritualidade deve ser pensada a partir de tudo que aprendemos sobre nós, inclusive a partir do fato - de conseqüências absolutamente produndas - de que somos produtores de deuses, e que, em última análise, a despeito de entregarmo-nos a ela, também ela, a Espiritualidade, é um "produto" nosso.
5. Não, não quero pensar a Espiritualidade dentro de credos pré-iluministas. Pode-se. Mas não quero. As Ciências Humanas são, doravante, a minha plataforma, a minha lista de imposições. Sobre elas, a partir delas, nelas é que me encontrarei com minha própria Espiritualidade.
6. Lamentavelmente, o que chega a mim, de Espiritualidade, é um discurso - nos meus termos - anacrônicos. Pronunciado há trezentos anos, puxa vida!, soaria como moderníssimo. Hoje, está há duzentos aos atrasado. É anacrônio. É - sempre segundo meus termos - até falso.
7. E deixo de lado a religiosidade popular. Dela, nem me aproximo, criticando-a. Mas aos "eruditos", aos doutores, aos mestres, ah, não "perdoo" o - nos meus termos - engodo. Está bem: decidiram jogar na lata do lixo o século XIX. Mas, atenção, eis a questão: direito deles, diante da verdade, fazê-lo? Está bem: alguém que devesse tomar uma droga qualquer tem o direito de deixar de fazê-lo. Mas o fato de o fazer, anula os efeitos de o fazer? Se o século XIX fala de nós, e o desprezamos, sabemos, mesmo, quem somos?
8. É muito curiosa a sensação de ver-se tomado de emoção "religiosa" e ter a consciência de que, no fundo, ela é produzida em nossa própria consciência, por conta de nossa adesão afetiva a determinada narrativa... No fundo, não vejo outro caminho para a paz entre as espiritualidades. E não aderi a essa perspectiva por causa disso. É simplesmente a conseqüência natural dela. Tanto melhor. Por outro lado, duvido que qualquer Espiritualidade atrelada a doutrinas, quanto mais de estilo clássico/monoteísta/conquistador, possam, algum dia, internamente, resolver a questão da paz. Só traindo-se a si mesma uma Espiritualidade de tipo doutrinário pode resolver-se com as outras. E, no entanto, bastaria a ela olhar-se no espelho do XIX...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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