terça-feira, 24 de março de 2009

(2009/104) Das montanhas da vida da gente


1. No fundo, não me impressionam as montanhas. O que eu quero não está nelas. Aliás, escalá-las apenas revela aquilo que a alma já antecipa - não há fim para o horizonte...

2. Estar na pradaria, no centro do mundo, é ter, à toda volta, o horizonte. Não importa para onde se caminhe - e a vida é caminhada, sempre -: há, sempre, um horizonte a mentir para nós um sinal de estalagem. Não há pousada na vida, só estrada, e a única estalagem chama-se morte.

3. Por isso que as montanhas são, a rigor, percalços, desafios, entraves, olimpíadas, a nos exigir mais do que passos para a frente, mas esforços para cima. Mas isso não porque é em cima que o final da estrada está. Não. Não há final - muito menos em cima. A estrada permanece, à frente, montanha abaixo, inexoravelmente, na direção da mentira da vida - o horizonte. E é só porque nos faltam, derradeiramente, as forças, que a caminhada finda.

4. O horizonte, contudo, continua lá, assistindo, impassível, a decomposição de nossos corpos, atônito de por que não caminhamos mais... É essa, todavia, a única ação humana que põe fim à opressão de caminhar... A morte, não a fé, é a única escapatória à condição humana. Maldição? Depende do dia... Quiçá seja, mesmo, uma bênção.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

2 comentários:

  1. Osvaldo,
    Que maravilha de texto!!!!

    Será que me permites postá-lo no meu blog??

    Engraçado, tenho um fascínio por montanhas, e sempre pensei nas pradarias como um lugar sem graça, sem relevo, sem contornos e curvas.

    Mas o alvo acima lança a dificuldade, de fato.

    Acho que não deixarei de amar as montanhas, uma das coisas que me faz amar o Rio de Janeiro.

    Mas certamente verei as pradarias com outros olhos.

    O tema do fim da existencia me mobiliza muito. Penso que estar aqui e agora é um privilegio, nesse exato momento, apesar dos pesares, que sempre teremos.

    Mas o fôlego da vida é o nosso fôlego para a vida, como disseste. Sensacional!!! Não quero perdê-lo. Já estive perto de perde-lo e daí não resta nada, somente o fim de uma história. Então decidi escrever um pouco mais de história, da melhor maneira.

    Eu te leio SEMPRE.
    Sou fã, seguidora e tu me inspiras sempre, me instigas, me fazes pensar e mudar.

    Grande abraço (Por favor, não saia daqui!!!) rs

    Stella

    ResponderExcluir
  2. Stella, querida, claro que podes usar o texto em teu blog. Doravante, não precisas pedir - basta transcrevê-lo(s).

    Um abraço irmanal,

    Osvaldo

    ResponderExcluir

Olá! Que bom que vai registrar sua presença com um comentário. Sinta-se muito à vontade.
Peroratio.