Até o advento em massa das igrejas de exorcismo, a plataforma operacional da instrumentalização do discurso do diabo era o de cumplicidade. Os pastores, as pastoras e os teólogos municiavam-se da retórica de que o povo se entregava às tentações do Satanás, fazendo-se cooperadores dele na obra de aviltar ainda mais a já aviltada criação. Cada evangélico era um culpado, um criminoso, um agente da progressão do mal na terra - cada culto, mais uma pedra lançada à cara do culpado, e uma ou duas doses de cachaça...
Quando surge o movimento - em massa - das igrejas de exorcismos, muda o discurso. O crente não é mais culpado - é vítima. O diabo passa a ser uma espécie de encosto, que, agarrado à vida da pessoa, não a deixa progredir, curar-se, libertar-se. Já não se fala ais de perdão, mas de libertação. Voltou-se àquela única descrição do ministério terreno de Jesus descrita em atos: ele andou libertando os oprimidos do diabo...
Trata-se de uma mudança muito grande, muito relevante - é impossível que ela não tenha conseqüências a médio e longo prazo na formatação do ethos evangélico.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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