sábado, 29 de outubro de 2011

(2011/510) O corpo e o "espírito"


1. Ele está aí - é quando ele para que tudo acaba: ao menos se com tudo queremos dizer as coisas das quais temos certeza. Depois, eventualmente, é o que (muitos) dizem, vem as coisas do além-do-corpo, as coisas chamadas "do espírito", as coisas "espirituais". São transformadas em coisas tão reais e relevantes que, mesmo no corpo, é das coisas "espirituais" que nos ocupamos...

2. É, todavia, no corpo que vivemos: nascemos dele e com ele. Comemos. Bebemos. Crescemos. Copulamos. Parimos. Trabalhamos. Brincamos. Amamos. Lutamos. Tudo isso é coisa do corpo: mesmo os sonhos dessas coisas - são tudo coisas que o corpo quer fazer. Pense em alguma dessas coisas que se queira fazer... sem o corpo...

3. E, todavia, nunca é o corpo o centro das atenções: é, sempre, a "alma". "Espiritualidade".

4. Mesmo quando queremos falar da terra, enveredamos para as "espiritualidades da terra". É sempre o "espírito", essa hipótese, a se enfiar no meio, a tirar o lugar do concreto, dos sentidos, da carne. É sempre a verborragia espiritualista a afastar os nossos olhos daqui, a lançá-los num além que tudo justifica... Olhai para cima! Para cima! Para muito acima!

5. Viramos o mundo de cabeça para baixo: o real tornou-se prescindível, e o irreal, verdadeiro. A isso se tem chamado "espiritualidade", uma cereja aqui, um glacê ali, algumas jujubas acolá, para enfeitar o bolo, que, todavia, é, sempre, ele, esse bolo espiritual sem dia seguinte...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Um comentário:

  1. Olá, Prof.°,

    Inspirada pela leitura de seu texto escrevi isso, a que não tenho a pretensão de chamr de poema. Meras elucubrações!
    Não é preciso publicar se não estiver coerente. Mas ao menos faça um comentário. Vindo de uma pessoa como você, vale a pena ouvir, seja lá o que for.

    Abraços.


    Do Espírito

    Pronuncio o seu nome,
    mas não posso tocá-lo.
    Faz-se presença:
    comigo contende, diz o crente.
    Tanta essência me anima,
    sem corpo, já me imagino.
    Para que serve o soma,
    se subtrair é meu destino?
    Entrementes,
    não me persuade
    o que depois vem.
    Em vão me encuco,
    me descuido,
    me encabulo,
    me faço cativa
    de uma falsa realeza.
    Todavia,
    o corpo quer vida
    não beleza.
    Uma coisa ali,
    outra acolá.
    Todas as coisas
    do lado de lá
    importa buscá-las.
    Abstrai! Abstrai!
    Use a imaginação.
    Isto é ser cristão.
    O corpo conexo
    me adverte.
    Que lugar habita?
    Em que lugar cogita?
    Não é o corpo
    única verdade
    onde se realiza?
    Sem ele, tudo se dissipa.
    No corpo de carne,
    não no espírito,
    o gozo é possível.
    Despir-se do corpo
    nos torna espírito,
    é o que diz a tora.
    Lá, meu espectro fita
    o corpo apodrecido,
    iludido mundo chora.

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